Davi. Amado (?). O segundo e o mais ilustre dos reis de Israel. Era filho caçula de Jessé, bisneto de Rute, e nasceu em Belém. Davi, em sua mocidade, foi pastor, ocupação que nos países orientais era geralmente exercida pelos escravos, pelas mulheres ou pelos íntimos da família. Apesar disso, ele foi ungido por Samuel para ser rei de Israel. Como era hábil tocador de harpa, foi chamado por Saul com o fim de suavizar a melancolia do infeliz monarca (1Sm 16). O lugar do encontro de Davi com Golias foi Efes-Damim (1Sm 17), localizado entre os montes da parte ocidental de Judá; e o ribeiro que corria entre os dois exércitos era o Elá, ou o Terebinto, que hoje é o uádi conhecido como Es-Sunt. A fama que Davi adquiriu pelo fato de ter vencido o gigante levou-o a casar-se com Mical, filha do rei, como também foi a causa dos maliciosos ciúmes que Saul sentia do jovem guerreiro.
Todavia, o rei nomeou Davi capitão de sua guarda real, posição somente inferior à de Abner, o general do exército, e de Jônatas, o provável herdeiro do trono. Davi e Jônatas vieram a ser grandes e dedicados amigos, mas a louca inveja e os maus intentos do rei Saul arrastaram, por fim, Davi para o exílio. Ele, primeiramente, buscou acolhida com o sacerdote Aimeleque, mas depois refugiou-se na corte de Aquis, o filisteu monarca de Gate, e, dali, livrou-se, ao fingir-se de louco (1Sm 19—21). Davi, após retirar-se de Gate, escondeu-se na caverna de Adulão, mas, depois, foi para uma fortaleza perto de En-Gedi; e, posteriormente, apareceu no bosque de Herete, ao sul de Judá. Aqui, um grupo de homens dedicados, que de boa vontade compartilhavam os perigos que Davi enfrentava, reuniu-se a ele. É verdade que tomar o partido de Davi era perigoso, o que ficou notório pelo assassinato de Aimeleque e dos sacerdotes, perpetrado por Doegue, o idumeu, a mando de Saul (1Sm 22). Os amigos de Davi entraram na cidade fortificada de Queila, e Saul esperava apanhá-los ali de surpresa (1Sm 23). Em contraste com a furiosa perseguição movida contra Davi, evidencia-se a cavalheiresca atenção do fugitivo para com “o ungido do Senhor”, como quando ele poupou a vida de Saul no deserto de En-Gedi (1Sm 24) e no deserto de Zife (1Sm 26). Abigail, no caso do insensato Nabal, apelou a essa nobre disposição de caráter (1Sm 25). Por algum tempo, Davi abrigou-se dessa perseguição com Aquis, rei de Gate, e, depois, Saul não o procurou mais (1Sm 27.4).
Na ausência de Davi, Ziclague foi tomada e incendiada pelos amalequitas; mas ele perseguiu os invasores, derrotou-os e assim pôde livrar do cativeiro muitas pessoas, entre as quais suas próprias esposas (1Sm 30). Depois da desastrosa batalha de Gilboa (1Sm 31), Davi proferiu uma tocante lamentação a respeito de Saul e Jônatas (2Sm 1). Davi, a seguir, veio a ser rei de Judá; foi ungido em Hebrom (2Sm 2) e reinou ali por mais de sete anos. Houve uma guerra prolongada entre a casa de Saul e a casa de Davi (2Sm 3.1). No entanto, depois do assassinato de Isbosete, filho de Saul (2Sm 4), ato que foi fortemente reprovado por Davi, este tornou-se rei de todo o povo de Israel (2Sm 5). A seguir, quis conquistar uma fortaleza, a única que resistira às forças do povo escolhido naquela terra. Por meio de um ataque-surpresa, a cidade de Jebus foi tomada e passou a ser conhecida por seu antigo nome, Jerusalém, como também pelo nome de Sião (2Sm 5). Essa cidade foi grandemente fortificada, tornando-se a capital do reino. A arca foi transportada com grande solenidade de Quiriate-Jearim para lá, onde se construiu uma nova tenda ou tabernáculo para recebê-la (2Sm 6). A prosperidade continuou a estimular as armas de Davi; mas, no meio de tantos triunfos, quando seu exército estava cercando Rabá, ele caiu nas profundezas do pecado, planejando a morte de Urias, depois de ter cometido adultério com Bate-Seba (2Sm 11). Convencido de sua grave falta, arrependeuse, implorando pela misericórdia do Senhor, e foi perdoado; mas, pelo resto da vida, questões de família o amarguraram. Absalão, seu filho muito amado, revoltou-se contra ele, e Davi, por algum tempo, teve de exilar-se; mas, por fim, esse filho ingrato e revoltado, que tanto martirizou seu pai, morreu (2Sm 15—18).
O insensato procedimento do rei, ao fazer censo do povo, enevoou ainda mais a vida de Davi (2Sm 24). Finalmente, depois de Adonias ter pretendido o trono, Davi abdicou em favor de Salomão, confiando-lhe, além disso, a tarefa de edificar o templo para o qual ele reunira muitos materiais. Depois das recomendações finais a seu sucessor, descansou com seus pais, “e foi sepultado na cidade de Davi” (1Rs 1e 2). A vida de Davi está repleta de incidentes românticos e de contrastes surpreendentes. Realmente, essa é uma história humana que manifesta tanto a fraqueza como a força de uma alma de extraordinária capacidade. Davi foi considerado um homem “segundo o [...] coração” de Deus (1Sm 13.14; At 13.22), e isso não quer dizer, de forma alguma, que ele fosse perfeito, mas somente que era um agente escolhido do Senhor para seus profundos desígnios. Os pecados de Davi acarretaram graves acontecimentos em sua vida, mas ele humilhou-se, com grande arrependimento, pois tinha a convicção de que pecara (2Sm 12). Sobre o caráter geral de Davi, o deão Stanley afirma o seguinte: “Tendo em vista a complexidade dos elementos que constituem o caráter de Davi, a paixão, a ternura, a generosidade, a altivez, as suas qualidades de soldado, pastor, poeta, estadista, sacerdote, profeta, rei; considerando-se ainda que esse homem extraordinário é o amigo amoroso, o guia cavalheiresco, o pai dedicado, não há em todo o AT outra pessoa com a qual ele possa ser comparado. [...] Ele é o tipo e
a profecia de Jesus Cristo. Não se chama Jesus como o filho de Abraão,
Dicionário bíblico universal / A. R. Buckland & Lukyn Williams; tradução Joaquim dos Santos Figueiredo. — 4. ed. rev. e atual. — São Paulo: Editora Vida, 2007.
0 Comentários