* História do Rio Grande do Norte (Parte 3 de 5)

LÍDERES E OLIGARQUIAS
Durante a República Velha
Inauguração do Sistema Oligárquico
Durante a Primeira República (1889/1930), a exemplo das demais unidades da Federação do Rio Grande do Norte conheceu o sistema de oligarquias.
Coube ao fundador do Partido Republicano, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, inaugurar o sistema oligárquico no Estado. A base econômica dessa primeira oligarquia, caracteriza como "personalista que evoluiu, mais tarde, para uma oligarquia tribal", segundo Mariz (1980), foi o açúcar.
A marca registrada do governo de Pedro Velho foi manter sempre os interesses da sua oligarquia, antecedendo aos do partido. Prova dessa tendência foi o empenho do nosso primeiro oligarca em indicar o seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão para disputar a sua vaga, na Câmara Federal, aberta quando veio assumir o governo. Apesar da oposição de outros chefes políticos, Augusto Severo foi eleito a 2 de maio de 1892, Entretanto, essa eleição não foi homologada, sendo posteriormente anulada em todo o País. Finalmente, no novo pleito realizado a 23 de abril de 1883, onde mais uma vez Pedro Velho impôs a candidatura do seu irmão, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi eleito para a Câmara Federal. Pedro Velho conseguiu ainda nomear seu outro irmão, Alberto Maranhão, secretário da sua administração.
O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador Joaquim Ferreira Chaves que, mesmo não pertencendo à família Albuquerque Maranhão, era ligado por estreitos laços de amizade aos membros da primeira oligarquia estadual.
Por volta de 1920, o eixo econ
ômico do Estado se desloca do litoral (açúcar e sal) para o interior (exportação de algodão e pecuária). É nesse contexto que aparece a segunda oligarquia, liderada por José Augusto Bezerra de Medeiros, com bases políticas no Seridó, onde predominava a atividade econômica de plantação e exportação do algodão.
A segunda oligarquia é interrompida no governo de Juvenal Lamartine, quando eclode a revolução de 3 de outubro de 1930, que modificou significativamente o panorama do País.
Indústria Incipiente e Sistema Financeiro
No Rio Grande do Norte, o setor industrial era insignificante. Mesmo no contexto regional, ocupava o sétimo lugar. Em número de indústrias, estávamos apenas acima do Maranhão e do Piauí.
Os setores de alimentação e têxtil predominavam na incipiente atividade industrial.
Quanto ao setor financeiro, o primeiro estabelecimento bancário só apareceu no Rio Grande do Norte no governo de Augusto Tavares de Lyra, em 1909. Era o Banco de Natal que, futuramente, daria origem ao Bandern. Quase todo o Nordeste já possuía agência do Banco do Brasil, mas o Rio Grande do Norte só foi inaugurar a sua primeira agência no dia 14 de abril de 1917. No setor financeiro ainda devem ser lembradas as iniciativas de Juvenal Lamartine, responsável pela criação de bancos rurais e de caixas em algumas cidades do interior, como Acari, Caicó, Macau etc. Ulisses de Góis e Jovino dos Anjos foram responsáveis pelo aparecimento de cooperativas, com o objetivo de facilitar o crédito.
A Passagem da Coluna Prestes no Estado
Na República Velha, foram freqüentes os protestos de militares e civis contra as fraudes eleitorais, que a inexistência do voto secreto ensejava. Movimentos como "Os 18 do Forte de Copacabana", no Rio de Janeiro, em 1922; a rebelião gaúcha de 1923, e a paulista, de 1924, atestam a insatisfação do povo contra o processo eleitoral vigente.
Foi no governo do presidente Artur Bernardes, que praticamente cumpriu o seu mandato sob "Estado de Sítio:, com as garantias constitucionais suspensas, que se organizou a "Coluna Prestes".
O principal objetivo dos comandados de Luís Carlos Prestes e Miguel Costa era percorrer o Brasil, levantando o povo contra o que consideravam "autoritarismo do presidente".
Os rebeldes entraram no Estado pela zona Oeste. Governava o Rio Grande do Norte o Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros (1924/1927), que procurou imediatamente se comunicar com o presidente, recebendo a promessa de que seriam tomadas providências para melhorar a segurança do Estado. Enquanto isso, o governo mobilizava civis e militares para fazer frente aos revolucionários.
A 26 de janeiro de 1926, o primeiro contingente da polícia militar, sob o comando do tenente João Machado, seguiu para a zona oeste. Algumas cidades do Seridó, temendo uma invasão pelo sul do Estado, colocaram em alerta suas forças policiais.
Os combates entre rebeldes e as forças policiais do Rio Grande do Norte ocorreram quase totalmente na região oeste. Pela cidade de Luiz Gomes, os integrantes da coluna Prestes seguiram para a Paraíba.
Coube ao governador Juvenal Lamartine recolher as armas que haviam sido distribuídas.
A passagem da Coluna Prestes é o último acontecimento significativo da República Velha no Rio Grande do Norte.
Duas Administrações de Alberto Maranhão
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, no dia 2 de outubro de 1872, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Pedroza de Albuquerque Maranhão.
Os seus estudos iniciais foram realizados, primeiro, em Macaíba e, depois, em Natal. Mais tarde, foi para Recife, onde se formou em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, com 20 anos.
Alberto Maranhão se casou com D. Inês Barreto. Teve seis filhos: Paula, Laura, Judite, Juvino, Cleanto e Caio.
Segundo Meira Pires, "sua educação esmerada, sua formação moral, sua cultura, seu invulgar espírito (...) um largo pendor diplomático pois sabia solucionar, com finura e habilidade exemplares, as mais difíceis questões".
Participou, com brilhantismo, do "Congresso Literário", que mantinha o jornal "A Tribuna". Com outros companheiros, fundou o "Grêmio Polymathico". Dirigiu o jornal "A República", onde, como afirma Meira Pires, "teve o ensejo de reafirmar o seu invencível valor de jornalista e homem de letras escrevendo, sem assinar, crônicas, tópicos e editoriais".
Exerceu a função de promotor público em Macaíba. Ocupou o cargo de secretário de Estado na administração de Pedro Velho.
A 14 de junho de 1899, foi eleito governador do Estado, dirigindo os destinos do Rio Grande do Norte no período de 1900 a 1904.
Durante sua administração, aprovou a lei nº 145, de 6 de agosto de 1900, pela qual "é o governador autorizado a premiar livros de ciência e literatura produzidos por filhos domicialiados no Rio Grande do Norte, ou naturais de outros Estados quando neste tenham fixa e definitiva a sua residência". Essa lei promoveu o desenvolvimento cultural do Estado, constituindo-se em fato inédito no País.
No dia 24 de março de 1904, o governador inaugurou o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão), com sua renda destinada para ajudar aos flagelados, vítimas da seca, que se encontravam em Natal.
Concluída sua administração, foi eleito deputado federal, e durante o exercício de seu mandato fez parte da Comissão de Diplomacia.
Em 1908 voltava a assumir o governo do Estado, realizando uma profícua administração: fundou o Conservatório de Música; o Hospital Juvino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby Clube (para incentivar o hipismo), e construiu a Casa de Detenção e o Asilo de Mendicidade. Implantou a luz elétrica em Natal e, posteriormente, os bondes elétricos. Inaugurou a Escola Normal, em 3 de maio de 1908. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, que atualmente tem o seu nome, dando-lhe as feições atuais e que foi entregue ao público no dia 19 de julho de 1912.
Alberto Maranhão estendeu sua ação também ao interior, como mostrar Itamar de Souza: "em São José de Mipibu, ele mandou as águas de uma fonte natural e permanente para o abastecimento d’água daquela cidade. Em Macaíba, sua terra natal, construiu o cais de atracação, melhorando assim o transporte fluvial entre aquela cidade e a capital do Estado. Em Macau, mandou fazer um aterro, numa extensão de quatro quilômetros, ligando esta cidade à estrada do sertão, à margem do rio Assu".
"Para facilitar o deslocamento de pessoas e produtos entre o sertão e as cidades portuárias, ele construiu três mil quilômetros de estradas carroçáveis em direção às cidades de Canguaretama e Natal".
O segundo governo de Alberto Maranhão surpreendeu pelo dinamismo, sendo considerado, por unanimidade, como a melhor administração durante a República Velha. Nem tudo, porém, foi positivo na segunda administração do oligarca potiguar que procurou, abertamente, imortalizar os membros de sua família. O município de Vila Flor teve o seu nome mudado para "Pedro Velho". Além dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmão que foi colocado na "square Pedro Velho". Fazendo uma crítica ao ilustre político potiguar, disse Itamar de Souza: "Este segundo governo de Alberto Maranhão teve três características básicas: primeiro, procurou imortalizar os membros da oligarquia aponto seus nomes em municípios, repartições públicas, monumentos e praças; segundo, monopolizou importantes setores da economia estadual, favorecendo, assim, os amigos e correligionários, em detrimento do erário público; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora administração com o dinheiro tomado emprestado no estrangeiro".
Alberto Maranhão, após deixar o governo, em 31 de dezembro de 1913, foi deputado federal, representando o seu Estado nessa função, de 1927 até 1929.
Abandonado a vida política, saiu do Rio Grande do Norte e foi morar com a família em Parati, no Rio de Janeiro.
Em 1918, publicou dois trabalhos: "Na Câmara e na Imprensa" e "Quatro discursos históricos".
Faleceu no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo sepultado no outro dia, em Parati.
As Lutas sem Trégua de José da Penha
José da Penha Alves de Souza nasceu a 13 de maio de 1875, na cidade de Angicos. Foram seus pais: José Félix Alves de Souza e Maria Inácia Alves de Souza.
Em 1880, José da Penha foi para Fortaleza, onde estudou no Colégio Militar. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro, onde, seguindo Aluízio Alves, fez toda a carreira militar; praça a 2 de agosto de 1890, alferes a 3 de novembro de 1894, tenente a 8 de outubro de 1898 e capitão a 2 de agosto de 1911". Desde jovem, participava de polêmicas, conseguindo se destacar mesmo quando seus adversários eram do nível de um Medeiros e Albuquerque ou de um José Veríssimo.
Nasceu, ao que parece, para debater. Discutir. Liderar. "Seu ardente ideal republicano, impregnado da proteção de Benjamim Constant, o gosto pelo estudo da História dos Povos, a vivência jornalística conduzindo-o à análise dos fatos diários, principalmente os de formação da República emergente, participação militar característica dos primórdios do novo regime, o espírito polêmico, fariam inevitavelmente do jovem pensador-militar um líder político", relata Aluízio Alves.
Não sabia silenciar diante da injustiça.
Na análise de Câmara Cascudo, "o nome de José da Penha Alves de Souza evoca o movimento da luta, o choque de idéias, a controvérsia agitação, sonoridade (...). Nasceu armado cavaleiro, de couraça e elmo, com bandeiras e montante, jurando combater o bom combate. Toda a sua vida e uma série de guerrilhas, de batalhas, de agonias, de sofrimentos, provocados, resistidos com altivez, destemor e sobranceria invulgares".
José da Penha assistiu, no dia 3 de janeiro de 1904, atos de violência praticados por policiais na cidade de Fortaleza. Revoltado, escreveu um artigo, no outro dia, demonstrando seu protesto. Militar, foi preso, sendo submetido ao Conselho de Guerra. Foi absolvido. Sua esposa Altina Santos, não suportando o sofrimento, suicidou-se com o revólver do marido.
José da Penha resolveu seguir para o Rio Grande do Norte para lutar contra a oligarquia Maranhão, que dominava o Estado, como sintetiza Aluízio Alves: "de Pedro Velho o governo foi para Ferreira Chaves, deste para Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, indo em seguida para o genro, Tavares de Lyra, Antonio de Souza preparou a volta de Alberto Maranhão, que, por sua vez, fez retornar Ferreira Chaves, sucedido, num segundo mandato, por Antonio de Souza, todos eles, nos intervalos, guindados à representação do Congresso Nacional, e Tavares de Lyra e Ferreira Chaves a ministérios".
Foi para mudar essa situação que José da Penha investiu contra a liderança de Alberto Maranhão. Procurou o apoio de um juiz de Caicó, José Augusto, que também combatia a oligarquia Maranhão. Mas José Augusto também não era favorável ao candidato escolhido pela oposição, argumentado a João da Penha: "se o candidato da oposição fosse o senhor, nestas circunstâncias, eu o apoiaria (...) O que se pretende é destrui-la para montar uma oligarquia nacional, com o filho do presidente da República, que nem sequer conhece o Rio Grande do Norte".
Estava certo o Dr. José Augusto. José da Penha, na realidade, combateu o que poderia ser uma imposição de uma oligarquia Ferreira Chaves, contra uma imposição do próprio José da Penha. E o que é pior, ele pretendia impor uma pessoa totalmente estranha ao Rio Grande do Norte, o tenente Leônidas Hermes da Fonseca, que, por sinal, apresentava apenas uma qualidade: era filho do presidente da República... O capitão José da Penha teria, sem dúvida, muito mais chance de vitória caso ele próprio fosse o candidato. Mas é possível que o seu pensamento fosse realmente o de derrotar a oligarquia Maranhão: "O meu coração tem a dureza daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia dominante".
José da Penha promovia, assim, a primeira campanha popular da história do Rio Grande do Norte. Sendo também o primeiro a falar diretamente com o povo. Fazendo uma campanha popular, conclamando a população para derrubar uma oligarquia que possuía figuras ilustres, de grande valor, como Alberto Maranhão.
Aluízio relata: "a campanha incendiou os ânimos de todo o Estado. não foi um movimento restrito à capital, sempre mais sensível a rebeliões populares. Não. As cidades do interior recebiam José da Penha e seus caravaneiros com o povo nas ruas - homens, mulheres, crianças -,aclamando-os, cantando o hino da campanha, desfraldando bandeiras".
A campanha se desenrolar num clima tenso, propício para que se cometesse violência. Com ameaça de proibição de comícios da oposição.
José da Penha empolgava com sua oratória que, na opinião de Câmara Cascudo, "era calorosa e acre, irritada, vergostante, panfletária, satírica:.
No dia 20 de julho de 1913, ocorreu um tiroteio que durou quarenta minutos. A casa em que José da Penha estava hospedado foi cercada pelo Batalhão de Segurança, desde a véspera. No tiroteio, D. Leontina, companheira de José da Penha, foi ferida. Os seus adeptos foram presos e logo depois soltos.
A primeira campanha popular terminaria de maneira melancólica. José da Penha foi abandonado pelo seu próprio candidato que, na realidade, jamais assumiu a candidatura... Falando sobre o assunto, Aluízio Alves considera que "a repercussão na imprensa do Rio, as versões espalhadas de que partira de José da Penha e de seus amigos, o tiroteio, o incitamento à greve, dias antes, a fábrica de tecidos, fundada por Juvino Barreto, na Ribeira, foram os últimos atos necessários para desvendar o mistério: a primeira campanha popular do Rio Grande do Norte não tinha candidato".
Joaquim Ferreira Chaves partiu, então, sozinho para a eleição, que se realizou no dia 14 de setembro de 1913.
E, em 27 de setembro de 1913, José da Penha inicia a sua viagem de volta para o Ceará, via Recife. No Ceará, ele havia sido eleito deputado estadual.
Pouco depois, Franco Rabelo convocou José da Penha para combater os adeptos do padre Cícero. No dia 2 de fevereiro de 1914, partiu com duzentos homens para combater mais de mil guerreiros. Armados e treinados pelo governo federal. Ao se despedir do povo de Fortaleza, vaticinou: "Vou porque não posso faltar. É só voltarei vitorioso ou morto".
E foi o que aconteceu. Morreu combatendo. Suas tropas, contudo, venceram os jagunços, na batalha de Miguel Calmon, no dia 22 de fevereiro de 1914.
A Questão de Grossos
Limite e Charqueada Criam problema
No século XVIII, o Ceará e o Rio Grande do Norte ainda não tinham seus limites demarcados.
Mossoró e Açu, quando fundaram as suas primeiras charqueadas, se tornaram rivais das "oficinas" cearenses. Medidas são tomadas para acabar com as charqueadas do Rio Grande do Norte, inclusive fechando os portos de Açu e de Mossoró. As carnes secas só poderiam ser fabricadas no Ceará. Para fabricá-las, porém, era necessários o uso do sal produzido no Rio Grande do Norte...
A Câmara de Aracati sugere estender seus limites, penetrando em território potiguar. O pedido foi indeferido, com a ressalva de que as vilas limítrofes deveriam concordar com tal medida, caso contrário, a reivindicação seria levada para a decisão real. Caso as vilas limítrofes nada obstassem, seria realizada a demarcação. Aquirás (Ceará) e Açu (RN) protestaram. Contrariando o que ficou determinado, o ouvidor substituto, Manoel Leocárdio Rademarker, mandou dar posse dos terrenos em litígio à vila de Aracati, ignorando os protestos.
Estava criado o problema.
O território limítrofe continuou sem ser demarcado. O Ceará, porém, não desistiu. Em 1894, volta ao assunto, impetrando uma ação no Supremo Tribunal, alegando "conflito de jurisdição", que se transformou posteriormente em "ação de limites".
A 13 de julho de 1901, a Assembléia Estadual do Ceará elevou Grossos à condição de Vila, em uma área pertencente ao Rio Grande do Norte: Tibau. Grossos etc. Em seguira, o presidente do Ceará, Pedro Augusto Borges, sancionou aquela resolução...
Rui Barbosa Defende o Rio Grande do Norte
O governador potiguar, Alberto Maranhão, protestou. Os norte-rio-grandenses que moravam na área disputada, reagiram... Os dois governos (Ceará e Rio Grande do Norte) mandaram tropas para o local. Prevaleceu, entretanto, o bom sendo e o conflito armado foi evitado...
A controvérsia foi levada para uma decisão através do arbitramento, sendo o resultado favorável ao Ceará.
Pedro Velho convidou Rui Barbosa para defender a causa do Rio Grande do Norte. Narra Nestor Lima: "Assumindo o patrocínio por parte do Rio Grande do Norte, ele formulou uma memória exaustiva do assunto, encarando-o sob todos aspectos, chegando às conclusões magistrais da obra em que se demonstrou, com a clarividência dos axiomas, a verdade em favor do bom direito ao Rio Grande do Norte". Foi uma brilhante defesa. Como resultado, o jurista Augusto Petrônio, através de três acórdãos (30/09/1908, 02/01/1915 e 17/07/1920) deu ganho de causa ao Rio Grande do Norte, definitivamente.
Tavares de Lyra, uma "Relíquia Nacional"
Augusto Tavares de Lyra se entusiasmou, ficou totalmente empolgado com a defesa da causa do Rio Grande do Norte, na questão de limites com o Ceará, na chamada 'Questão de Grossos". Foi, na realidade, incansável. Publicou dois estudos, reunidos em volume, que forneceram importantes subsídios para que Rui Barbosa elaborasse as suas "Razões Finais".
Augusto Tavares de Lyra nasceu no dia 25/12/1872, em Macaíba. Filho do coronel Feliciano Pereira e de D. Maria Rosalina.
A respeito desse ilustre filho de Macaíba, Carlos Tavares de Lyra escreveu: "sóbrio no trajar, de gestos cometidos, palavra fácil, de limite suave; argumentador seguro, de prodigiosa memória, capaz de citar fatos e episódios com surpreendente precisão de pormenores, impressionou, certamente, a todos que tiveram a fortuna de ouvi-lo; no Parlamento Nacional, no plenário do Tribunal de Contas, na cátedra de professor, na tribuna ,de conferencista (...) Homem raro, raríssimo, pelo saber, pelas virtudes, pela coerência, pela compostura moral, social, política, de 85 anos lúcidos de vida dedicados à pátria, à cultura, à família (...). Viveu uma grande e gloriosa vida; uma vida em linha reta, limpa e clara".
Augusto Tavares de Lyra fez o curso de Humanidades, em Recife. Em 1892, era bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Recife. Escolheu advogar em Natal, onde exerceu mais duas profissões: a de jornalista, sendo redator político do jornal "A República", e a de professor de História Geral e do Brasil, no Atheneu Norte-rio-grandense, de 1892 a 1894. A partir dessa data, surgiu no cenário nacional, elegendo-se deputado federal, cargo que exerceu até o ano de 1904. Foi nesse período que ele se empolgou com a defesa do seu Estado, na questão de limites contra o Ceará. Pesquisando, começou a se interessar pela História e Geografia do Brasil e do Rio Grande do Norte. Em 1902 já tinha publicado "Questão de Limites entre os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte". Dois anos mais tarde publicou "Apontamentos sobre a questão de limites entre o Ceará e o Rio Grande do Norte".
Em 1904, uma nova experiência: governador do Estado, fazendo uma grande administração, concluída em 1906. O conselheiro Afonso Pena, impressionado pela inteligência do orador, resolveu convidá-lo para ser o futuro ministro de Justiça e Interior. Tavares de Lyra aceitou o convite, exercendo tal função com eficiência até 1909. Lançou, em 1907, "Algumas notas sobre a História do Rio Grande do Norte".
Após a morte do presidente Afonso Pena, Tavares de Lyra abandonou momentaneamente a vida pública.
Em 1910 foi eleito senador da República, deixando a função em 1914 para assumir o ministério da Viação e Obras Públicas, até 1918. Foi na presidência de Venceslau Brás que exerceu por duas vezes, interinamente, a pasta da Fazenda. Nessa época, publicou "Domínio Holandês no Brasil especialmente no Rio Grande do Norte" (1915). Alguns anos depois, em 1921, lançou "História do Rio Grande do Norte", sua obra mais importante.
No dia 26 de outubro de 1918 foi nomeado ministro do Tribunal de Contas, tomando posse do cargo em novembro. Em 1940, se aposentou, justamente quando estava na presidência daquele Tribunal.
O decreto de 11 de janeiro de 1952, publicado no Diário Oficial, mandava "inscrever o nome do ministro Augusto Tavares de Lyra no referido "Livro do Mérito", como merecedor dessa alta distinção, conforme parecer da competente Comissão".
O presidente Getúlio Vargas considerou Augusto Tavares de Lyra como "uma relíquia nacional", no discurso que pronunciou no salão de honra do Palácio do Catete, em cerimônia realizada no dia 15 de agosto de 1953, que oficializou a inscrição do nome do eminente potiguar no Livro do Mérito. Recebeu congratulações de expressivas instituições de todo o País.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mandou cunhar medalha de ouro, alusiva aos 80 anos de vida do ministro Tavares de Lyra. Esse Instituto dedicou ao ilustre potiguar uma edição especial de sua revista. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte seguiu o exemplo, dedicando o vol. LII de sua revista 1a memória do ministro Augusto Tavares de Lyra, em 1959.
Tavares de Lyra faleceu na capital federal no dia 21 de dezembro de 1958.
Coronéis, Cangaceiros e Fanáticos
Opções do Sertanejo Abandonado e Pobre
O sertão brasileiro, mais particularmente o interior do Nordeste, passava por uma crise social sem precedentes durante o final do século XIX e o início do século XX. O sertanejo se sentia abandonado pelas autoridades, isolado da civilização, e sofria com uma infra-estrutura que beneficiava os grandes proprietários das fazendas, os "coronéis", que se tornaram os donos do sertão. A vida girava em torno desses "coronéis". Eles protegiam e perseguiam, mandava e desmandavam. Na política, cometiam todo tipo de fraude para beneficiar seus candidatos. Em seus territórios, dependendo da maior ou menor liderança, nada se fazia sem a sua determinação. Os humildes, portanto, estavam sob o seu domínio.
Os coronéis cometiam arbitrariedades e suas vítimas não tinham a quem recorrer. "A situação dos pobres do campo no fim do século XX, e mesmo em pleno século XX, não se diferenciava daquela de 1856. Era mais do que natural, era legítimo, que esses homens sem terra, sem bens, garantias, buscassem uma "saída" nos grupos de cangaceiros, beatos e conselheiros, sonhando a conquista de uma vida melhor. E muitas vezes lutando por ela a seu modo, de armas nas mãos", comentou Rui Facó.
Coronéis, cangaceiros e fanáticos fazem parte de uma mesma realidade. Os coronéis organizavam grupos armados para, através deles, exercerem o poder. Esses homens armados antecederam o cangaço. No instante em que se libertaram do jugo dos coronéis e passaram a fazer justiça pelas próprias mãos, se transformaram em cangaceiros.
Os cangaceiros foram imediatamente classificados de "bandidos", pelas autoridades e pela elite sertaneja. Na realidade, eles estavam fora da lei, porque não se enquadravam dentro nas regras vigentes na região: obediência total aos grandes proprietários. Alguns fazendeiros de menor prestígio, para fugir dos desmandos dos "coronéis", faziam aliança com cangaceiros...
Os coronéis podem cometer todo tipo de violência, tomar terras, cometer assassinatos, sem problemas, porque representavam a sociedade, uma comunidade machista, a lei, o poder.
As oligarquias se auto-intitulavam defensores dos bons costumes, contrárias, portanto, à ação dos "bandidos". O que elas defendiam, na realidade, eram seus bens, uma situação que lhes dava somente privilégios. Por outro lado, os homens humildes do sertão, rudes, sem instrução, ofendidos e humilhados, pensando em vingança, não podiam agir de outra maneira, a não ser através da violência. O cangaço foi, num certo sentido, um levante contra o absolutismo dos coronéis, e filho da miséria que reinava numa estrutura latifundiária obsoleta e injusta.
O pequeno agricultou, o trabalhador do campo, sonhava com um mundo diferente, onde não houvesse seca, com rios perenes e onde, sobretudo, ninguém passasse fome e houvesse o império da justiça... Era o mundo que os "beatos" e místicos prometiam para seus adeptos. Os trabalhadores rurais queriam dialogar com Deus, mas não sabiam como agir em busca do caminho que levasse, todos eles, para o Paraíso. Faltavam, entretanto, sacerdotes. Na ausência dos padres, homens simples, analfabetos ou não, impressionados com a realidade em que viviam, apelavam para o sobrenatural, rezavam e chegavam a imaginar a si próprios enviados de Deus, para livrar o povo do pecado e da miséria, através da oração e de sacrifícios... Para eles somente assim os nordestinos poderiam atingir a felicidade eterna!
Os dois maiores místicos foram: padre Cícero Romão Batista e Antonio Conselheiro, ambos cearenses! O primeiro exerceu uma grande influência em todo o Nordeste e ainda hoje mantém adeptos no Rio Grande do Norte.
Diferente dos demais, o padre Cícero possuía uma grande cultura e era profundo conhecedor do sertão. Acontece que sua fama de "milagreiro" despertou uma reação negativa na própria Igreja Católica.
O padre Cícero é a própria síntese do sertão nordestino: não foi apenas um fazedor de milagre. Foi muito mais. Com o passar do tempo, cresceu o seu poder, exercendo grande influência política. Passou a ser um "coronel". Conviveu com cangaceiros. Teve, inclusive, um encontro com Lampião, dando-lhe a patente de capitão. O que muitos não podiam compreender era a sua opção pelos pobres, provocando um conflito com a ala conservadora da Igreja. Sobre ele, ponderou Neri Feitosa: "Propôs-se a si mesmo ou recebeu de Deus a missão de levantar o ânimo do nordestino humilhado e sofredor, injustificado em seus direitos, embaraçados na saída do túnel de suas desditas".
Como chefe político, sofreu também oposição daqueles que seguiram orientação contrária à sua maneira de agir.
O Nordeste, naquela época, era uma região onde predominava a miséria, ignorância e a violência.
Diante desse quadro, é compreensível que o homem rude, não fazendo parte dos protegidos dos coronéis, optasse pelo cangaço para fugir da prepotência dos policiais ou procurasse seguir os beatos, para se redimir de seus pecados e conseguir, através da oração e do sacrifício, atingir a felicidade eterna...
Os cronistas urbanos, quase sempre combatiam a ação dos assaltantes, enquanto os cantadores, geralmente exaltavam os cangaceiros e também os místicos.

VIOLÊNCIA E MISTICISMO

A Arma Era a Lei
Os Reis do Sertão e do Cangaço
Lampião é apresentado, de uma maneira geral, como sendo um homem cruel, dos mais violentos. Mas os cantadores, com seus versos e suas violas, procuravam geralmente justificar as atitudes frias e violentas do "Rei do Cangaço":
"Por que no ano vinte, seu pai fora assassinado

da rua da Mata Grande,duas léguas arredado...

"Lampião desde desse dia jurou vingar-se também,

dizendo: foi inimigo, mato, não pergunto a quem...
Só respeito neste mundo Padre Cisso e mais ninguém".

Antonio Silvino, diferentemente de Lampião, encarnava a figura do justiceiro protetor. Humilde, ocupava o lugar das autoridades que falhavam pela ausência ou pela opressão. Não possuía a fama de perverso que acompanhou Lampião até sua morte. "A exaltação dos cantadores pelas façanhas de Antonio Silvino chegou ao delírio", disse Câmara Cascudo que, comprovar sua afirmação, apresenta uma prova:
"Cai uma banda do céu,
seca uma parte do mar,
o purgatório resfria,
vê-se o Diabo com medo,
o céu Deus manda trancar!".
"Admira todo o mundo
quando eu passo em um lugar.
Os matos afastam os ramos,
deixa o vento de soprar,
se perfilam os passarinhos.
Os montes dizem aos caminhos:
- Deixai Silvino passar! ..."
Antonio Silvino dominou o sertão do Nordeste durante vinte anos, obtendo títulos como "O Rei do Sertão" e "Governador do Sertão".
Em 19 de fevereiro de 1937, Antonio Silvino recebeu o indulto do governo federal.
Diferente foi o destino de Lampião. Agressivo, não perdoava os seus inimigos. Foi, contudo, uma vítima da sociedade. Não era apenas um bandido e, sim, um grande líder, guerrilheiro infernal, estrategicamente notável, e sabia lutar muito bem contra a polícia.
E esse homem foi derrotado pelos mossoroenses!
Lampião Deixa Rastro de Destruição no RN
No dia 10 de junho de 1927, Lampião penetrou com seu bando em Luiz Gomes, no Rio Grande do Norte. O objetivo dessa marcha era atacar Mossoró. No seu caminho, deixou um rastro de destruição. Seqüestrou pessoas apenas para pedir resgate. Transformou fazendas em ruínas. Como disse Raul Fernandes: "O prazer era destruir:.
Em "Caiçara dos Tomás" houve um confronto com os soldados comandados pelo tenente Napoleão de Carvalho Angra, com a derrota dos policiais.
Onde chegava, o bando ameaçava e exigia, sempre dinheiro e jóias.
Uma parte do grupo de Lampião tentou atacar Apodi. A população, contudo, estava preparada. Quando os bandidos se aproximaram da cidade, o tenente Juventino Cabral, á frente de policiais e civis, ordenou que abrissem fogo. Os salteadores resolveram não se arriscar. Recuaram.
Em Dix-sept Rosado, praticamente sem ninguém, o bando de Lampião praticou diversos atos de vandalismo. Raul Fernandes transcreveu no seu livro "A Marcha de Lampião", a descrição feita por uma testemunha dos acontecimentos: "Demônios entregues aos maiores desatinos, quebrando portas, espaldeirando quem encontravam, exigindo dinheiro, roubando tudo, numa fúria diabólica. A palavra de ordem era matar e roubar".
O ataque a Mossoró estava próximo.
Rodolfo Fernandes e a Defesa de Mossoró
Poucas pessoas acreditavam que Lampião tivesse a ousadia de atacar Mossoró. Um absurdo, diziam praticamente todos, ou seja, a maioria da população da "Capital Oeste".
O governador do Estado, José Augusto, encontrava dificuldades em organizar a defesa contra uma possível investida do "Rei do Cangaço".
O prefeito de Mossoró, coronel Rodolfo Fernandes, contudo, acreditava nessa possibilidade. Ele tinha consciência de que a situação da cidade era, na realidade, crítica. O tenente Laurentino de Morais, enviado pelo governo estadual, constatou que a força policial estava composta somente por vinte e dois soldados... Era preciso tomar medidas urgentes.
Rodolfo Fernandes enviou um emissário até Fortaleza (Alfredo Fernandes) para conseguir ajuda do governador Moreira da Rocha. A missão fracassou. Apesar de não ter atingido seu objetivo, Alfredo Fernandes adquiriu armas e munições na capital cearense, que foram de grande utilidade quando surgiu a hora de defender Mossoró.
O prefeito armou civis e lançou um manifesto, publicado por Raul Fernandes, e que termina com as seguintes palavras: "A Prefeitura está devidamente autorizada a criar uma Guarda Municipal para garantir na cidade, que hoje mesmo entrará em ação. Acresce que recebemos armas suficientes do Estado e compradas pelo comércio desta praça, que ficam à disposição do Governo Municipal".
Com o tempo passava e o ataque não ocorria, tudo fazia crer que o tão falado ataque jamais aconteceria. Era o que pensavam também os governadores de três Estados: Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba.
Dia 12 de junho. O prefeito, incansável, promoveu uma reunião. Era mais uma tentativa de Rodolfo Fernandes para alertar o povo da cidade. Esforço inútil. O grosso da população continuava não acreditando num possível ataque de Lampião. Houve, inclusive, neste dia, uma partida de futebol entre dois grandes clubes rivais: Humaitá x Ipiranga.
Notícias alarmantes, infelizmente, chegavam a Mossoró: o bando de Lampião se encontrava em São Sebastião. O delegado tenente Laurentino de Morais, integrado ao grupo do prefeito, tinha, entretanto, tomado algumas medidas: havia criado várias trincheiras.
De repente, os sinos das igrejas começaram a tocar. Era o alarme. Não havia mais dúvida, o ataque de Lampião iria se realizar!
O pânico tomou conta da cidade. Alguns procuraram fugir de carro, outros de trem, e determinadas pessoas, desorientadas, não sabiam como agir. A ordem expedida era muito clara: toda pessoa que não tivesse uma arma deveria abandonar a cidade. A razão para tal medida era que a cidade vazia facilitaria a defesa, na opinião do prefeito. Ele estava certo, como provaria o desenrolar dos acontecimentos. No tumulto, dois homens se destacaram: o prefeito Rodolfo Fernandes e Vicente Sabóia.
O governador José Augusto foi, no mínimo, indeciso. Falhou como governante. Possivelmente porque não acreditasse no ataque de Lampião ao município de Mossoró. O Governador, por falta de medidas urgentes e rápidas, possibilitou que um grupo de cangaceiros passeasse pelo Estado, matando, roubando, levando o terror a todas as comunidades interioranas...
Certamente não adianta discutir, nos dias atuais, se o governador poderia ter evitado a ação de Lampião no Rio Grande do Norte, inclusive o ataque a Mossoró. O fato é que medidas importantes deixaram de ser tomadas e Lampião agiu como previra o prefeito Rodolfo Fernandes. Outro aspecto a considerar é que houve tempo para preparar uma defesa, com distribuição de tropas em pontos estratégicos, com concentração de forças em Mossoró e em Caicó.
Mossoró Resiste às Investidas de Lampião
Lampião mandou um ultimato ao prefeito de Mossoró, exigindo quatrocentos contos para evitar a invasão e posterior saque da cidade. A carta onde ele pedia o resgate foi escrita por Antonio Gurgel do Amaral e entregue por Pedro José.
Rodolfo Fernandes respondeu dizendo que não podia enviar a importância exigida: "Estamos dispostos a recebê-los na altura em que desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança".
Lampião não se conformou e enviou um bilhete com novas ameaças. Rodolfo Fernandes respondeu com altivez, reafirmando que não dispunha do valor pedido. Concluiu dizendo que "Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se firmemente inabalável na sua defesa, confiando na mesma".
O ataque começou às dezesseis horas. Dentro de pouco tempo, o tiroteio atingiu o auge. A resistência, porém, continuou. O ataque contra a cidadela do prefeito fracassou. Os cangaceiros tentaram completar o certo. O pessoal da Estação impediu que isso acontecesse. Após muito tiroteio, a vitória sorriu para os mossoroenses.
Um grande feito, do qual todo norte-rio-grandense deve orgulhar-se.
Por que Lampião Atacou Mossoró?
O ataque de Lampião a Mossoró foi reconhecido por todos, inclusive pelo próprio "Rei do Cangaço", como sendo de seu maior erro. Como explicar tal falha de um homem tão experiente? O ataque foi idealizado pelo cangaceiro potiguar Massilon Leite Benevides, que conhecia muito bem a região. O objetivo, como disse Aglae Lima de Oliveira: "saquear as instalações do Banco do Brasil, a indústria e o comércio e as residências, para obter boa colheita", ou então, receber de quinhentos a quatrocentos contos de réis, uma quantia expressiva na época.
Massilon apostou na indiferença da população que não acreditava num ataque de Lampião. Nesse ponto ele acertou. O que jamais poderia imaginar é que, naquela cidade, havia um prefeito com a clarividência de Rodolfo Fernandes e que os homens daquela terra procurassem corrigir o seu próprio equívoco, lutando com bravura até conseguir a vitória.
O Sertanista Rodolfo Fernandes de Oliveira
Nasceu em Portalegre, no dia 24 de maio de 1872.
"Ainda adolescente iniciou-se no comércio, em Pau dos Ferros. Emigrou para o Amazonas durante o primeiro ciclo da borracha (...). Chefiou grupos de seringueiros. Dois anos depois, regressou, passando a morar em Macau. Trabalhou para a Companhia do Comércio durante cerca de dois anos, construindo salinas. Fixou-se em Mossoró. Em 1900, consorciou-se com Isaura Fernandes Pessoa, tendo quatro filhos - José, Julieta, Paulo e Raul. Na firma Tertuliano Fernandes & Cia., também construiu salinas e substituiu o corta-vento para puxar água pelo motor a óleo, determinando maior aproveitamento das marés. Em 1918, estabeleceu-se por conta própria na indústria salineira. Eleito prefeito, de 1926 a 1918, levantou a planta da cidade. Arborizou-a iniciou o calçamento. Projetou avenidas. Fez várias praças e jardins", Registrou Raul Fernandes.
Foi o grande líder da resistência contra Lampião e seu bando. Sobre esse tema, afirma Raimundo Nonato: "divergindo de muitos, cedo se apercebeu da existência do perigo e tomou a iniciativa da organização da defesa da cidade com a presteza e energia que a situação reclamava".
"Não perdeu tempo com palavras e tergiversações, mobilizou os elementos necessários para a luta, planejou a resistência, conclamou o povo e advertiu as autoridades da iminência do perigo. (...) Esse espírito de previdência do atilado sertanista foi a salvação da cidade, dias depois, defendida corajosamente, pela sua população civil em armas que se aportou com valentia, destemor e a serenidade que lhe assegurou a vitória final".
Em um aviso dirigido à população de Mossoró, com o objetivo de tranqüilizar a todos, Rodolfo Fernandes de Oliveira descreve as medidas tomadas pelo governo do Estado. Essa afirmação visava realmente dar a impressão que a prefeitura estava pronta, em termos militares, para enfrentar um ataque de um bando de criminoso fortemente armados. Não estava. Mas tinha que tomar tal posição para não semear a intranqüilidade e o pavor.
A certeza de que Mossoró seria atacada por Lampião se baseava em informações recebidas pelo prefeito. Joaquim Felício de Moura, comerciante de Mossoró, foi avisado por Antonio Pereira de Lima, na localidade de Misericórdia, que Lampião pretendia assaltar a cidade. Pediu, inclusive, que levasse a notícia ao coronel Rodolfo Fernandes, Argemiro Liberato, da Paraíba, escreveu uma carta ao prefeito revelando as pretensões de Lampião em invadir Mossoró.
O empenho do coronel Rodolfo Fernandes em defender a cidade foi tão intenso que ele se descuidou dos negócios particulares, inclusive de si mesmo e de sua saúde. Por essa razão, não chegou a terminar o seu mandato. Morreu no dia 11 de outubro de 1927 no Rio de Janeiro.
O Cangaceiro Potiguar Jesuíno Brilhante
Jesuíno Alves de Melo Calado nasceu no sítio Tuiuiú, no município de Patu, Rio Grande do Norte, em 1844.
Filho de José Alves de Melo Calado e D. Alexandrina Brilhante de Alencar.
Para Câmara Cascudo, ele "foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos velhos oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas (...) Baixo, espadaúdo, ruivo, de olhos azuis, meio fanhoso, ficava tartamudo quando zangado. Homem claro, desempenado, cavaleiro maravilhoso, atirador incomparável de pistola e clavinote, jogava bem a faca e sua força física garantia-lhe sucesso na hora do "corpo a corpo". Era ainda bom nadador, vaqueiro afamado, derrubador e laçador de gado.
Sua pontaria infalível causava assombro, especialmente porque Jesuíno, ambidestro, atirava com qualquer das mãos.
Casou com D. Maria, tendo cinco filhos dessa união.
Envolvido com uma questão de família, Jesuíno matou o negro Honorato Limão, no dia 25 de dezembro de 1871. Foi sua primeira vítima.
Como lembra Tarcísio Medeiros, era "irredutível em questão de honra". O autor, em seguida, cita um texto de Raimundo Nonato, que narra um episódio, onde Jesuíno Brilhante se hospedou em uma casa. O marido estava ausente. Um bandido, de nome Montezuma, procurou se aproveitar da situação para perseguir a proprietária da casa. Jesuíno, revoltado, matou o malfeitor. Outro caso: assassinou um escravo, José, porque tentou violentar uma mulher.
Segundo Cascudo, "ficaram famosos os assaltos à cadeia de Pombal(PE) para libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade de Martins (RN). Cercado pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem através de casas, rompendo as paredes, cantando a antiga "Curujinha".
Câmara Cascudo afirma ainda que Jesuíno "nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar".
A imaginação popular acrescentou à biografia do cangaceiro centenas de batalhas, das quais Jesuíno Brilhante teria participado sem que tivesse levado um só tiro...
Em dezembro de 1879, na região das Águas do Riacho de Porcos, Brejos da Cruz, na Paraíba, Jesuíno foi atingido no braço e no peito, sendo levado, agonizante, por seus amigos. Morreu no lugar chamado "Palha", onde foi sepultado.
Em 1883, o Dr. Francisco Pinheiro de Almeida visitou o túmulo do bandido e levou a caveira do cangaceiro para sua casa, em Mossoró. Após sua morte, a caveira de Jesuíno foi levada para o Grupo Escolar "30 de Setembro". No ano de 1924, a caveira foi transferida para a Escola Normal.
A Estrutura Política do Coronelismo
Os grandes inimigos dos cangaceiros eram as "volantes" (polícia) e os grandes proprietários das fazendas, conhecidos pela denominação genérica de "coronéis".
Para João Camillo de Oliveira Torres, o coronelismo é a "estrutura política por intermédio da qual os chefes de clãs rurais e grande latifundiários assumiram o controle da ação política". E acrescenta: "a distribuição de postos da Guarda Nacional, que exercia mais funções de "ordem honorífica" do que, propriamente, de corpo de tropa, obedecia ao critério de posição social e política dos indivíduos".
O coronel é, portanto, o chefe político, quase sempre o grande latifundiário, exercendo um verdadeiro monopólio da terra. E "o monopólio da terra, abrigando em seu seio uma economia voltada essencialmente para a exportação de alguns produtos, entravou brutalmente o crescimento das forças produtivas", analisa Rui Facó.
O mesmo autor acredita ainda que foi "o monopólio da terra que nos reduziu ao mais lamentável atraso cultural, como isolamento, ou melhor, o encarceramento em massa das populações rurais na interlândia a que chamamos sertão, estagnada por quatro séculos. Analfabetismo quase generalizado. Ignorância completa do mundo exterior, mesmo o exterior ao serão, ainda que nos limites do Brasil".
É nesse cenários que os coronéis reinavam.
O coronel, para exercer sua influência em sua região, tinha que ser "homem macho", capaz de matar ou mandar matar qualquer pessoa que contrariasse os seus interesses...
Contava também com um grande número de protegidos, seus ä filhados"...
Maria Isaura Pereira de Queirós registra as intermináveis lutas de família, que deixaram um rastro de sangue nas terras nordestinas. Cita exemplos: os Cunha e os Pereira, no Ceará.
O fato é que não se pode analisar o fenômeno do coronelismo somente como uma forma do poder privado, sem qualquer relação com o cangaço e com o fanatismo religioso. É igualmente um "compromisso" do poder público. Resultado em fenômenos como mandonismo, filhotismo, falseamento de votos e na "desorganização dos serviços públicos", como mostra João Camilo de Oliveira Torres. Do compromisso resulta a "reciprocidade", ou seja, o coronel, na sua área de ação, recebe ajuda do poder público (nomeações de funcionários públicos), facilitando, por sua vez, a atuação do governo.
Em síntese, esse é o contexto do coronelismo no Nordeste nos primeiros tempos da República.
Theodorico Bezerra: de Cabo a "Major"
Nasceu em Santa Cruz, Rio Grande do Norte, sendo filho de José Pedro Bezerra e Anna Bezerra.
Fez os primeiros estudos em sua terra. Em 1917 foi estudar em Natal, no colégio Santo Antonio. Após dois anos de estudos voltou para Santa Cruz, por causa da situação financeira precária de sua família.
Em 1915 exercia o comércio, como ambulante. Nascimento Bezerra informa que "em princípio compra e vende tudo, mas o negócio de couro é que tem maior expressão. Parou suas atividades quando foi servir o exército, mais precisamente no 21º Batalhão de Caçadores, onde permaneceu de 1923 até 1924, quando chegou até o posto de cabo. Por essa razão, ficou conhecido pela alcunha de "cabo". O título de "major" apareceu depois, quando militava na política.
Saindo do exército, comprou, juntamente com um amigo, um caminhão. Depois, vendeu sua parte e comprou, em Natal, o "Hotel dos Leões". Aos poucos, foi comprando outros, como afirma Raimundo Alves de Souza:"o internacional", Avenida e "Palace Hotel", até fixar-se definitivamente no ramo com o arrendamento do "Grande Hotel", em 1939.
Theodorico Bezerra, apesar de suas inúmeras atividades, ficou conhecido sobretudo como algo que na realidade nunca deixou de ser: um coronel, do tipo definido por Maria Bezerra: "é um coronel que emerge e se modela no trânsito entre o novo apogeu do coronelismo e seu rápido declínio. Projeta o perfil de um "novo coronel" despido das características anteriores de truculência, jaguncismo, desacato às autoridades constituídas que lhe estorvassem os propósitos particulares vestindo-o de uma roupagem de corte mais ajustado ao figurino da época que transcorre: pacifismo, moradores desarmados, colaboração às instituições governamentais.
Um dos traços fundamentais da personalidade de Theodorico Bezerra é o seu dinamismo. Sempre procurou diversificar suas atividades, sendo vencedor em todas elas. Como fazendeiro, chegou a criar um verdadeiro império: Irapuru, sua maior fazenda. Como comerciante, se tornou sócio de uma agência de carros; proprietário de uma farmácia; dono de uma casa de fogos. Chegando inclusive a fazer parte da diretoria da Associação Alves de Souza. Como político, foi um grande líder, com uma importante participação na vida partidária do Rio Grande do Norte. Entrou para a política sob a influência do interventor Fernandes Dantas. No dia 23 de maio de 1945 ingressou no Partido Social Democrático. No ano de 1947, foi eleito deputado estadual. Venceu as eleições para governador.
O primeiro projeto de Theodorico Bezerra na Assembléia Legislativa foi a criação do município de São José de Campestre, que se transformou em lei. Foi também membro da Comissão do Comércio, Indústria, Agricultura e Obras Públicas.
No dia 3 de fevereiro de 1949, assumiu o comando do PSD. Em 1950 foi eleito deputado federal. No ano de 1960 apoiou Aluízio Alves e monsenhor Walfredo Gurgel para governador e vice, respectivamente. Grande campanha, cujo desenrolar será estudado mais adiante, em outro fascículo. Dois anos mais tarde o "major", acostumado a vencer, obteve sua primeira derrota na política; não conseguiu se eleger senador da República. Ficou muito frustado, como se pode constatar, através dessa declaração, citada por Raimundo Alves de Souza: "Fiz tudo para ter o padre como companheiro de disputa das vagas no Senado. Desejava ver dois pessedistas vitoriosos. Porém esqueci que tem mais capelas, igrejas e santuários que diretórios do PSD. E o padre teve mais votos do que eu". Pouco tempo depois, assumiu o cargo de vice-governador, na vaga deixada por monsenhor Gurgel, eleito senador. Assumiu também a presidência da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Como político, é claro, possuía uma visão coronelística. Tudo era válido, contando que levasse à vitória: "ameaça, suborno, pedido humilde, favores, traições, tudo".
Em sua fazenda Irapuru, recebia os visitantes com grandes festas. Possuía duas bandas, uma integrada por homens e outra composta totalmente por mulheres.
Certa vez, recebeu uma turma de alunos e professores de uma escola do município de Natal, soltando foguetões e com desfile de duas bandas. Uma moça, ao sair do ônibus, descascava uma laranja para comer. Theodorico viu e ordenou que a estudante guardasse a laranja porque, caso contrário, não teria fome na hora do almaço. E foi servido realmente um grande banquete, farto em alimento e bebidas...
Theodorico Bezerra, inteligente e trabalhador, sabendo tirar proveito da influência que desfrutava na política, conseguiu somar uma grande fortuna. Em suas fazendas chegou a produzir, às vezes, mil quilos de algodão. Possuiu ainda duas usinas de beneficiamento de algodão; três fábricas de óleo, e uma refinaria de óleo, informa Maria do Nascimento Bezerra. Em Natal, dirigiu o Grande Hotel, que teve um papel de destaque durante a Segunda Guerra Mundial, considerado como sendo o melhor da cidade. Sobre Theodorico Bezerra, nesse período, Clyde Smith Junior fez a seguinte observação: "um norte-rio-grandense simpatizante dos alemães, mas interessado principalmente em dinheiro"... Foi dono da Rádio Trairi e do Jornal do Comércio de Natal.
Quanto morreu, já não desfrutava do prestígio de outrora.
Fanáticos da Serra de João do Vale
Luís da Câmara Cascudo pediu, em um de seus artigos, "licença para contar uma história que nunca foi contada". Esse estudo foi publicado pela primeira vez no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, em 9 de fevereiro de 1941 e transcrito, posteriormente, na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Tema do artigo: os fanáticos da Serra de João do Vale. Mais tarde, Tarcísio Medeiros abordou o assunto em seu livro "Aspectos Geográficos e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte".
É, portanto, uma história pouco conhecida.
O local em que tudo aconteceu foi a Serra de João do Vale, que fica no município de Augusto Severo. Possui tal denominação porque herdou o nome do seu primitivo proprietário, João do Vale Bezerra.
Joaquim Ramalho do Nascimento, que seria um dos chefes dos fanáticos, nasceu no sítio "Cajueiro", em 1862, filho de Manuel Ramalho do Nascimento e de dona Isabel Maria da Conceição.
Luís da Câmara Cascudo traçou o perfil de Joaquim Ramalho, com as seguintes palavras: "Gordo, lento, apático, amarelo, foi menino sujeito às cismas, meditações longas, olhar parado, acompanhando um pensamento misterioso. Com poucos anos, afirma-se a tendência mística, nas orações sem fim, passos tirmoados, braços para o firmamento, rezando missas, impondo penitências".
Joaquim Ramalho cresceu e, adulto, se casou, passando a morar na Vila do Triufo. Continuou, entretanto, com o mesmo comportamento estranho, rezando sempre.
No final de 1894, morreu o vigário de Triunfo, padre Manuel Bezerra Cavalcante, com oitenta anos, sendo chorado por toda a comunidade.
No ano de 1898, Joaquim Ramalho teve um ataque, assim descrito por Câmara Cascudo: "Bruscamente parou, nauseante, gorgulhando vômitos e caiu de bruços, pesadamente". Durante a crise, começou a cantar. Quando recobrou os sentidos, não se lembrava de nada. O fenômeno se repetiu nas outras tardes seguintes. A notícia se espalhou rapidamente, crescendo o número de curiosos, todos querendo assistir à cena. Estava nascendo mais um líder místico no sertão nordestino. Como Joaquim Ramalho tinha lido Allan Kardec, acreditou que estava sendo possuído pelo espírito do velho vigário. Dentro em breve, segundo o beato, o espírito de outro sacerdote passou a se encarnar nele: padre Manuel Fernandes, vigário de Macau.
À medida que o arraial crescia, tudo se desorganizava nos arredores. As pessoas abandonavam o trabalho para seguir o beato, ao mesmo tempo em que aumentava a devassidão.
Um mestiço, de nome Sabino José de Oliveira, de acólito de Joaquim Ramalho subiu de categoria quando recebeu o espírito de um padre italiano, chamado Brito de Maria da Conceição.
Nessa altura dos acontecimentos, "a moral desceu à quota zero" na palavras de Câmara Cascudo.
Começaram, então, a surgir reclamações. O coronel Luiz Pereira Tito Jácome denunciou o movimento ao governador do Estado, desembargador Joaquim Ferreira Chaves que, recebendo várias queixas, nomeou o tenente do Batalhão de Segurança, Francisco Justino de Oliveira Cascudo, para acabar com a festa.
Os dois místicos foram presos em "Pitombeira". Não houve nenhuma reação. Joaquim Ramalho disse apenas que "Deus foi preso, quando mais eu...".
Sabino caiu no chão, como se estivesse sendo possuído por um espírito. O tenente, inteligente, percebeu a "farsa", e bateu nele com a espada. Sabino se ergueu rápido, dizendo: "Pronto seu tenente, o espírito já saiu, Voou na ponta da espada...
"Joaquim e Sabino foram presos e levados para a cadeia de Triunfo. E desmoralizados perante seus adeptos, por causa das declarações que eles prestaram à polícia. O processo policial, contudo, não deu em nada. Os dois beatos foram colocados em liberdade.
Joaquim Ramalho, ao sair da prisão, voltou a trabalhar na agricultura. Morreu no seu sítio "Malhada Redonda", com idade avançada, picado por uma cascavel. Nunca mais recebeu "espírito"... O outro não se sabe como terminou. Uma coisa é certa: ficou totalmente curado...
A Revolução de 1930
Impasse na Política Café com Leite
Foram principalmente os motivos de origem política e econômica que determinaram a eclosão do movimento revolucionário de 1930 no Brasil.
A crise do sistema capitalista mundial a parti de outubro de 1929, que atingiu as nossas exportações de café, funcionou como determinante de ordem econômica. Quando o presidente Washington Luís transferiu ao Instituto do Café do Estado de São Paulo a responsabilidade para solucionar o impasse surgido no setor exportador do principal produto brasileiro, perdeu o apoio dos cafeicultores, que lhe conferiam sustentáculo político.
O rompimento da política "café com leite", que determinava a alternância de um presidente paulista e um mineiro frente ao governo do País, teria sido a causa política.
A comprovação de fraude eleitoral na escolha de Júlio Prestes para a Presidência da República, o assassinato de João Pessoa, vice-presidente derrotado, funcionaram como causas imediatas do movimento revolucionário que marca o início da Segunda República no Brasil.
Um Marco na História Brasileira
A revolução de 30 foi, na realidade, um marco na história brasileira. Com ele terminou a República Velha.
Questionam historiadores e sociólogos quanto à natureza do movimento de outubro de 1930. Alguns consideram que pode ser chamado de "revolução", pois teria sido responsável pelo desmoronamento da ultrapassada estrutura política das Primeira República. Outros negam essa denominação alegando que as mudanças advindas em 1930 não teriam alterado radicalmente o País.
É também questionado o caráter "burguês" do movimento. As críticas são justificadas, na alegação de que não houve uma oposição significativa entre o setor agrário-exportador e a burguesia industrial que, naquela época, não tinha força suficiente para liderar qualquer movimento. Além do mais, a "Aliança Liberal" não poderia, na sua totalidade, ser apresentada como porta-voz da burguesia industrial, pois era uma realidade a presença de elementos extremamente "conservadores" em suas fileiras.
O que se pode concluir é que, em 1930, forças heterogêneas se somaram e preparam o cenário para a ação que de certa maneira viria alterar, a ambiência política da época.

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2 Comentários

  1. O nome do pai do capitão J. da Penha era José Francisco Alves de Sousa. José Felix Alves de Sousa era o nome de um irmão do capitão.

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