Leviatã

 





A figura do Leviatã é uma das mais fascinantes e complexas em diversas mitologias e tradições religiosas. Ele é muito mais do que um simples monstro; é um símbolo poderoso de forças primordiais, caos e poder incontrolável.


Origens Bíblicas

O Leviatã é mencionado em vários livros do Antigo Testamento, como Jó, Salmos e Isaías. No Livro de Jó, ele é descrito em detalhes impressionantes como uma criatura marinha gigantesca e indomável, com escamas impenetráveis, dentes aterrorizantes e olhos que brilham como o amanhecer. De sua boca, saem labaredas de fogo e fumaça. A descrição em Jó serve para mostrar a onipotência de Deus, pois somente o Criador seria capaz de subjugar uma criatura tão poderosa, um ser que nenhum humano ousaria enfrentar.

Nos Salmos, ele é retratado como um monstro que habita as profundezas, e sua derrota por Deus é um símbolo da vitória divina sobre o caos primitivo. Já no Livro de Isaías, o Leviatã é descrito como uma serpente sinuosa e fugitiva, que será morta por Deus no fim dos tempos, simbolizando a destruição final de todas as forças do mal e do caos.


Na Demonologia

Em algumas tradições demonológicas, o Leviatã é reinterpretado como um dos sete príncipes do inferno. Em 1589, o teólogo Peter Binsfeld associou cada um dos sete pecados capitais a um demônio, e o Leviatã foi ligado à inveja. Nessa vertente, ele não é apenas uma besta marinha, mas um ser que, após ser um serafim no céu, caiu com Lúcifer e se tornou um demônio que governa as águas e é responsável por inspirar a inveja nos corações dos humanos, levando-os a questionar as bênçãos dos outros e a buscar a heresia.


Simbolismo e Filosofia

O simbolismo do Leviatã vai além das descrições religiosas. Sua imagem de poder supremo e incontrolável foi adotada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes em sua obra-prima de 1651, também intitulada "Leviatã". Para Hobbes, o Leviatã é uma metáfora para o Estado e o governo absolutista.

Ele argumentava que, no "estado de natureza", os humanos vivem em uma "guerra de todos contra todos", um estado de caos e anarquia. Para escapar dessa condição, os indivíduos devem ceder suas liberdades a uma entidade soberana, o Leviatã, que detém poder absoluto para manter a ordem e a segurança. A figura do monstro serve para ilustrar a necessidade de um poder forte e centralizado para evitar a autodestruição da sociedade, dominando as paixões humanas em prol da paz.


Conclusão

O Leviatã é, portanto, uma figura multifacetada: um monstro bíblico que representa as forças do caos, um príncipe demoníaco da inveja na demonologia e, na filosofia política, o símbolo do Estado como garantidor da ordem social. Sua presença contínua em diferentes campos do conhecimento e da cultura humana demonstra a sua força como um arquétipo do poder, da destruição e da necessidade de controle.

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