Livros Poéticos

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Livros Poéticos e Sapienciais
Os Escritos
A Bíblia Hebraica, após as suas duas primeiras seções, conhecidas respectivamente como a Lei e os Profetas, contém uma terceira, chamada de modo genérico de os Escritos (ketubim).
Esta terceira seção consiste num conjunto de treze livros: Rute, 1 e 2Crônicas, Esdras, Neemias e Ester outros seis são poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Lamentações de Jeremias e um, Daniel, é de evidente concepção profética e apocalíptica.
Os gêneros literários das obras que integram o grupo dos Escritos se acham misturados. O mesmo, em maior ou menor grau, ocorre também em outros livros da Bíblia. Recorde-se a esse respeito a forma poética de certas passagens dos Profetas (p. ex., Is 40-55, jóia da poesia do Antigo Oriente) ou do Pentateuco (Gn 49.2-27 Êx 15.2-18.21). Quanto às características da poesia hebraica, ver a Introdução aos Salmos.

Gêneros literários
Amalgamando temas e estilos, os ketubim dão um destacado lugar ao gênero sapiencial (do latim sapientia, ou seja, "sabedoria"), especialmente representado por Jó, Provérbios, Eclesiastes, por certos salmos e por algumas passagens de outros livros.
A sabedoria que esses escritos didáticos fazem permanente referência, tentando inculcá-la nos seus leitores, é de caráter eminentemente prático não consiste tanto em um apelo teórico quanto numa exortação para saber viver, ou seja, para que o comportamento da pessoa seja adequado a todas e a cada uma das múltiplas circunstâncias da vida, que cada qual deve desempenhar de maneira correta no papel que lhe corresponde representar no meio da comunidade humana a que pertence. Assim como o bom artesão possui uma espécie de "sabedoria" que o capacita para esculpir madeira, forjar metal, engastar pedras preciosas ou compor belas telas (cf. Êx 35.31-35), também "o sábio", segundo a perspectiva bíblica, possui a habilidade, a agudeza e as qualidades precisas para enfrentar com êxito as contingências da vida, quaisquer que sejam.
A sabedoria é, essencialmente, um dom de Deus desenvolvido prontamente pela experiência e pela reflexão. Porque a experiência do cotidiano é também, por sua vez, fonte inesgotável de sabedoria para aquele que anda com os olhos bem abertos e não se agrada da sua própria ignorância. Por isso, o sábio observa a realidade, julga aquilo que vê e, finalmente, comunica aos seus discípulos aquilo que ele mesmo aprendeu primeiro do seu relacionamento pessoal com o mundo circundante.
Para transmitirem o seu ensinamento, os sábios recorrem freqüentemente ao provérbio ou à reflexão que se acha nos Ketubim sob duas diferentes formas: a admoestação e a sentença.
A primeira se reconhece logo pela freqüência do uso do modo verbal imperativo, empregado para aconselhar e exortar os discípulos acerca do caminho que devem seguir (cf. Pv. 19.18 20.13 Ec 7.21).
A segunda, a sentença, consiste na breve descrição objetiva de uma realidade comprovável, de um fato sobre o qual não se pronuncia nenhuma espécie de juízo moral (cf. Jó 28.20 37.24 Pv. 10.12 14.17 Ec. 3.17 Ct. 8.7).
Junto com essas fórmulas proverbiais, a Bíblia recolhe outros modelos didáticos utilizados pelos sábios para a transmissão dos seus conhecimentos: o poema sapiencial (Pv 1-9), o diálogo (Jó 3-31), a digressão no discurso (característica de Eclesiastes), a alegoria (Pv 5.5-19) e também a oração e o cântico de louvor (formas características dos Salmos).
Caráter e temas
Mediante a comunicação dos seus conhecimentos, da sua experiência e da sua fé em Deus, os sábios de Israel tencionam que os seus discípulos, a quem eles costumavam chamar de filhos (cf. Pv 1.8), aprendam a importância de desenvolver determinados aspectos práticos da vida.
Entre esses aspectos, podem ser citados o autodomínio, especialmente no falar (Jó 15.5 Pv 12.18 13.3), a dedicação ao trabalho (cf. Jó 1.10 Pv 12.24 19.24 Ec 2.22) e o exercício da humildade, que não é debilidade de caráter, mas antítese da arrogância e do excesso de confiança em si mesmo (Jó 26.12 Pv 15.33 22.4). Os sábios também valorizam altamente a amizade sincera (Jó 22.21 Pv 17.17 18.24), ao passo que condenam a mentira e o falso testemunho (Jó 34.6 Pv 14.25 19.5). Além disso, exortam a preservar a fidelidade conjugal (Pv 5.15-20), a tratar generosamente os necessitados (Jó 29.12 31.16-23 Pv 17.5 19.17 Ec 5.8) e a praticar a justiça (cf. Pv 10.2 21.3,15,21).
Característico da literatura sapiencial é o tema da justiça retribuidora. Conforme esta, Deus recompensa o justo de conduta e castiga o mau (cf. Jó 34.11,33 Pv 11.31 13.13), de quem são respectivamente figura o sábio e o néscio. De modo semelhante, os discípulos que seguem os conselhos de seu mestre serão premiados com o dom da vida, enquanto que a necessidade de outros (não ainda a intelectual, mas a de uma conduta ética vituperável) lhes acarretará a morte. Importantes são também, sobretudo em Jó e Eclesiastes, os aportes dos sábios ao problema sempre atual do sofrimento humano (Jó 11 22.23-30 36.7-14 Pv 2 Ec 3.16-18 cf. Rm. 11.33 1Co 2.6-16) e da inevitabilidade da morte (Jó 17.16 20.11 33.19-22 34.10-30 Pv 18.21 24.11-12 Ec 8.8).

A sabedoria
Nos escritos sapienciais, não só se escuta a voz dos sábios de Israel, mas também, às vezes, se deseja ouvir a dos sábios de outros povos (Pv 30.1 31.1). E, em certas ocasiões, inclusive a Sabedoria (personificada) fala e convida a todos a receberem o seu ensinamento, que é tesouro de valor incomparável (Pv 8.10-11). Como uma diligente dona de casa, a Sabedoria preparou um banquete do qual deseja que todos participem (cf. Pv 9.1-6). Em contraposição a ela, e também personificada, a Loucura tenta atrair com seduções e falsos encantos os ingênuos e os inexperientes (Pv 9.13-18).
Numa etapa posterior da sua história, o povo hebreu identificou a sabedoria com a Lei (lit. "instrução") promulgada por Moisés no monte Sinai. Assim, Pv 1.7 estabelece que "o temor do SENHOR é o princípio do saber" (cf. Sl. 111.10 Pv 9.10) e Jó 28.28 afirma que "o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento", o que contém uma admoestação característica da lei mosaica e também de toda a Bíblia.

Fonte: iLúmina - A Bíblia do século XXI


O LIVRO
O livro de Jó é o princípio dos cinco livros chamados, com absoluta propriedade, de poéticos e sapienciais. (Ver a Introdução aos Livros Poéticos e Sapienciais.) A prosa narrativa ocupa nele um espaço muito reduzido; ela se encontra somente no prólogo (caps. 1—2), no epílogo (42.7-17), numa breve passagem de transição (32.1-6) e em alguns versículos introdutórios do diálogo. O resto, praticamente a totalidade do corpo do escrito, é poesia.
O autor desta obra, expoente da literatura universal, se revela um consumado estilista. Com notável destreza, maneja os recursos do idioma, combinando, de maneira extraordinária, a profundidade de pensamento com a beleza de uma linguagem poética, sonora e cheia de ritmo, rica em paralelismos e imagens de singular plasticidade.

O PRÓLOGO
O prólogo consiste na apresentação das circunstâncias em que se desenrola o drama e dos personagens que intervêm nele. O protagonista, Jó, é um fazendeiro rico (1.3) que vive, com sua família, em Uz, povoado situado, segundo se crê, na região araméia que se estendia até o sudeste da Palestina. Homem de fé, descrito como “íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (1.1), Jó é vítima de uma cadeia de desgraças que o deixam rapidamente sem filhos e sem a fazenda, enfermo e reduzido a uma condição miserável (7.5). Apesar de todas as desgraças, ele confia em Deus e o bendiz (1.21), não deixa que os seus lábios pequem contra o Senhor e ainda rebate as queixas da esposa perguntando-lhe: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10)
Naquela situação, três amigos do protagonista apressam-se para “condoer-se dele e consolá-lo:” “Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita” (2.11). Contestando os lamentos de Jó, os seus visitantes falam um de cada vez, e ele responde a cada intervenção. Desse modo, dispõem-se três séries de discursos (3.1—31.40), em cujo fim aparece outro personagem, o jovem “Eliú, o filho de Baraquel, o buzita” (32.2, cf. v. 6), que toma a palavra para repreender com ironia a Jó e os seus amigos. Nenhum deles responde ao grande e afetado discurso de Eliú (32.6—37.24), depois do qual é o Senhor mesmo que intervém e põe fim a todo o diálogo (38—41), ao que somente seguiram umas palavras de arrependimento pronunciadas por Jó (42.1-6) imediatamente antes do epílogo em prosa.

A MENSAGEM
O cap. 3 inicia o primeiro dos poemas. Jó se lamenta da sua desgraça em termos que revelam uma amargura profunda, muito distante daquele ânimo sereno com que, no prólogo, enfrentava a adversidade. Agora, predominam em Jó as queixas e os tons de voz apaixonados, e sem cessar pergunta a si mesmo por que Deus envia sofrimentos a alguém que, como ele, sempre o serviu com fidelidade e não fez nada de mal.
A resposta dos seus três amigos se repete uma e outra vez: a desgraça é o castigo do pecado, de modo que um grave pecado deve ter sido cometido por Jó, quando Deus o castiga com tantos males; somente se arrependendo voltará a gozar das bênçãos do Senhor. Mas essa argumentação não satisfaz a Jó; ele sabe que não é culpado e confia que Deus mesmo seja testemunha da sua inocência, e o justifique, e lhe revele, no fim, o porquê de tanto sofrimento (31.35-37; cf. 19.25-27).
Concluída essa série de discursos, intervém Eliú no colóquio para reprovar a ousadia de Jó e o inadequado das respostas dos seus três visitantes. O estilo dessa seção é reiterativo e enfático. Eliú exige a atenção dos presentes, ante os quais se anuncia como um mestre imparcial que, ainda que seja jovem, está bem capacitado para dar lições e emitir sábios juízos (32.6-22) e acusações (34.7-9,34-37).
Não obstante o tom arrogante desse personagem, as suas palavras convidam à reflexão, porque ele exalta a justiça e a sabedoria, a santidade e a grandeza de Deus e coloca uma ênfase particular no valor pedagógico da dor humana. Deus, por meio do sofrimento, pode levar o pecador à conversão e à salvação (cf. 36.5-16).
O último discurso pertence ao Senhor, que fala a Jó “do meio de um redemoinho” (38.1; 40.6). Deus se lhe manifesta assim, rompendo o silêncio que até então havia guardado e do qual Jó havia se queixado freqüentemente. Surpreendentemente, as palavras do Senhor não fazem referência aos sofrimentos de Jó, mas são uma afirmação da grandeza de Deus, do seu poder e da sabedoria insondável do seu governo universal. Jó, tocado na sua consciência, confessa ser um ignorante e atrevido que falava “do que não entendia” (42.3). Tendo aversão a si mesmo e arrependido “no pó e na cinza” (42.6), mantém a sua confiança em Deus, mesmo quando não tenha conseguido decifrar o mistério dos sofrimentos e a infelicidade do inocente (38.1—42.6).
Na conclusão em prosa do livro, o Senhor repreende os visitantes, elogia a fidelidade de Jó e lhe devolve com acréscimos aquilo que havia perdido da fazenda, da família e das amizades (42.7-17).
É evidente que este livro não pretende estabelecer uma teoria geral acerca do sofrimento humano, nem tampouco uma teoria particular em torno da infelicidade de que também são objeto os que amam ao Senhor e agem com retidão. Aquilo que o livro oferece é a colocação dialogada de dois pontos de vista sobre a causa da desgraça: o tradicional sustentado por Elifaz, Bildade e Zofar, segundo o qual Deus premia neste mundo o bom e castiga o mau; e aquele que Jó representa, negando-se a admitir que o seu infortúnio pessoal se deva a um castigo divino. Nessa dupla e contraditória perspectiva, a voz de Deus se deixa ouvir finalmente para levar os dialogadores ao reconhecimento da incapacidade humana de compreender o mistério dos desígnios divinos.

O LIVRO
Quanto ao livro de Jó como fenômeno literário, deve-se dizer, em primeiro lugar, que o seu autor foi um poeta excepcional, tanto no que se refere ao conteúdo da obra quanto ao domínio do idioma. Um poeta que, além disso, possuía grande experiência de vida e uma mente crítica e audaz que o impulsionava a discutir posições doutrinárias tidas naquela época como irrefutáveis.
Não se conhece a identidade do poeta nem a época em que viveu; com respeito a isso e a outros dados pessoais, nada diz o texto. Sem dúvida, partindo de certos indícios, pode-se reconhecer que a obra atravessou diversas etapas antes de atingir a sua forma definitiva, possivelmente próximo do séc. V a.C.

ESBOÇO:


1. Jó é posto à prova (1.1—2.13)
2. Jó e os seus amigos (3.1—37.24)
a. Queixa de Jó (3.1-26)
b. Primeiro diálogo (4.1—14.22)
c. Segundo diálogo (15.1—21.34)
d. Terceiro diálogo (22.1—27.23)
e. Elogio da sabedoria (28.1-28)
f. Defesa final de Jó (29.1—31.40)
g. Falas de Eliú (32.1—37.24)
3. Intervenção do Senhor e respostas de Jó (38.1—42.6).
a. Primeira resposta de Deus (38.1—40.2)
b. Primeira resposta de Jó (40.3-5)
c. Segunda resposta de Deus (40.6—41.34)
d. Última resposta de Jó (42.1-6)
4. Cena final (42.7-17)

Fonte: iLúmina - A Bíblia do século XXI


Salmos

O livro dos Salmos (Sl) contém orações e cânticos produzidos pela experiência religiosa de uma comunidade que adora. O adorador, nos Salmos, toma a palavra para dirigir-se a Deus e repartir as experiências e as aspirações mais profundas da alma: lutas e esperanças, triunfos e fracassos, adoração e rebeldia, gratidão e arrependimento; particularmente, o clamor que surge da enfermidade, da pobreza, do exílio, da injustiça e de toda espécie de calamidades e misérias que atingem a humanidade.
O nosso Senhor Jesus Cristo utilizou os Salmos durante o seu ministério. Assim o vemos, por exemplo, por ocasião da tentação no deserto (Mt 4.6; cf. Sl 91.11-12) ou nos ensinamentos do Sermão do Monte (Mt 5.7, cf. Sl 18.25; Mt 5.35, cf. Sl 48.2; Mt 7.23, cf. Sl 6.8). Além disso, os Evangelhos relatam que, nas suas últimas palavras na cruz, Jesus citou duas vezes os Salmos (Mt 27.46 e Sl 22.1; Lc 23.46 e Sl 31.5).
Através da história, os Salmos têm servido de inspiração tanto para a comunidade judaica como para a comunidade cristã. O povo de Israel expressou a sua fé entoando-os no templo de Jerusalém, e o Judaísmo os tornou parte essencial do culto na sinagoga. A Igreja os adotou tal como estavam e, ao recebê-los, os incorporou à fé cristã, dando-lhes um sentido cristocêntrico. As expectativas messiânicas, originalmente centradas no rei da linhagem de Davi, foram identificadas com Jesus Cristo (At 2.30-31).
O livro de Salmos, compilado por ocasião do regresso do exílio na Babilônia, com base em antigas coleções, inclui salmos que datam de um período que abarca mais de seis séculos, desde os inícios de Israel até a era pós-exílica; além disso, foi o hinário que os judeus utilizaram durante a reconstrução do templo de Jerusalém, conhecido como o Segundo Templo, depois do exílio na Babilônia. O nome hebraico do livro é tehilim, plural de tehila, que significa “cântico de louvor”. O título em português “Salmos” deriva da Vulgata, onde recebe o nome de Liber Psalmorum ou “Livro dos Salmos”. O latim, por sua vez, o toma da Septuaginta (LXX), na qual esse livro se chama Psalmoi ou “Cânticos para Instrumentos de Corda”, apesar de apenas alguns deles se identificarem no texto hebraico como “cânticos para instrumentos de corda” (em hebraico, mizmor). Em certas ocasiões, dá-se ao livro o nome “Saltério”, palavra derivada do grego psalterion, que é o nome do instrumento de cordas (lira) que se usava na antiga Grécia para acompanhar os cânticos.

A POESIA HEBRAICA
A poesia hebraica teve grande popularidade em todo o antigo Oriente Próximo. Numerosos exemplos desse gênero literário chegaram a nós de Canaã (cujos músicos e cantores tinham fama internacional) bem como do Egito e da Mesopotâmia. É evidente a contribuição que, nesse sentido, Israel deu ao mundo cultural do seu tempo. A poesia israelita existe em grande quantidade na Bíblia. Ver, como exemplo desse gênero, o Cântico de Moisés (Êx 15), o Cântico do Poço (Nm 21.17-18), o Cântico de Débora (Jz 5) e o Lamento de Davi pela morte de Saul e Jônatas (2Sm 1.19-27). Mesmo assim, a Bíblia se refere às antigas coleções poéticas das quais se conservaram apenas fragmentos, como “O livro das Guerras do Senhor” (Nm 21.14) e “O livro dos Justos” (Js 10.13 e 2Sm 1.18). Mas a maior parte da obra poética do antigo Israel se encontra no livro de Salmos.
O estilo da poesia hebraica não se assemelha ao estilo da poesia na nossa língua. As suas estruturas são semelhantes às dos outros povos semitas da antiguidade. Possivelmente, de todas as formas peculiares de gênero poético hebraico, o “paralelismo” seja a mais fácil de ser reconhecida numa tradução em português. A estrutura paralela era uma das formas favoritas de se criar a beleza literária. A poesia hebraica não possui rima, que se usa, normalmente, na poesia em português; no seu lugar, o paralelismo oferece uma espécie de “rima de idéias”.
Em geral, distinguem-se três formas de paralelismo:
(a)   Paralelismo sinonímico, que consiste em expressar duas vezes a mesma idéia com palavras diferentes, como em Sl 15.1:Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?
(b)    Paralelismo antitético, que é formado pela oposição ou pelo contraste entre duas idéias ou imagens poéticas; p. ex., Sl 37.22: Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa.
(c)     Paralelismo sintético, que se dá quando o segundo membro prolonga ou termina de expressar o pensamento enunciado no primeiro membro acrescentando elementos novos, como em Sl 19.8: Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; O mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos. Às vezes, o paralelismo sintético apresenta uma forma particular, que consiste em desenvolver a idéia repetindo algumas palavras do verso anterior. Então, costuma-se chamá-lo de paralelismo progressivo, como no caso de Sl 145.18: Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade.

GÊNEROS LITERÁRIOS NOS SALMOS
Uma leitura atenta dos Salmos aponta uma série de características de forma e conteúdo que permitem classificá-los em grupos, de acordo com o seu gênero literário. Por outro lado, a identificação desses gêneros é muito importante para compreender os salmos adequadamente.
Podemos distinguir no Saltério as seguintes categorias de salmos:

(a)   Hinos, utilizados no louvor a Deus (8; 15; 19.1-6; 24; 29; 33; 46—48; 76; 84; 93; 96—100; 103—106; 113—114; 117; 122; 135—136; 145—150). Estão incluídos nessa categoria dois subtipos de salmos: os hinos de entronização, que celebram Deus como Rei de toda a criação (47; 93; 96—100), e os cânticos de Sião, que expressam devoção a Jerusalém e ao seu santuário (46; 48; 76; 84; 87; 122).
(b)   Lamentos ou súplicas, tanto individuais, em súplicas de auxílio diante de alguma aflição física ou moral (3—7; 9—10; 12—14; 17; 22; 25—26; 28; 31; 38—39; 41—43; 51; 54—59; 61; 63—64; 69—71; 77; 86; 88; 94; 102; 109; 120; 130; 139—143), como coletivos, quando todo o povo implora ajuda em momentos de calamidade nacional, tais como uma seca, uma epidemia ou uma grave derrota militar (44; 60; 74; 79—80; 83; 85; 90; 123; 125—126; 129; 137).
(c)    Cânticos de confiança, nos quais se expressa a certeza da ajuda iminente de Deus (11; 16; 23; 27; 62; 131).
(d)   Ações de graças, expressões de gratidão pela ajuda recebida (30; 32; 34; 40.1-10; 63; 65; 67; 75; 92; 103; 107; 111; 116; 118; 124; 136; 138).
(e)   Relatos de história sagrada, que narram as intervenções redentoras de Deus (78; 105—106; 135—136).
(f)     Salmos reais, que podem ser de diversos gêneros e que eram usados em ocasiões especiais da vida do rei, tais como a sua coroação, o seu casamento ou alguma ação militar (2; 18; 20—21; 28; 45; 61; 63; 72; 84; 89; 101; 110; 132; 144).
(g)   Salmos sapienciais ou didáticos, que são meditações sobre a natureza da vida humana e das ações divinas (1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127—128; 133).
(h)   Salmos de adoração e louvor (15; 24; 50; 66; 68; 81—82; 108; 115; 118; 121; 132; 134).
(i)     Salmos de peregrinação, que os peregrinos entoavam a caminho de Jerusalém ou no seu regresso à Cidade Santa (84; 107; 122).
(j)     Salmos de gênero misto (36; 40).
(k)   Salmos acrósticos, que utilizam estruturas poéticas baseadas no alfabeto hebraico; cada verso começa com uma letra sucessiva do alfabeto (9—10; 34; 119).
(l)     Imprecações (Ver mais adiante).


ESTRUTURA E NUMERAÇÃO DOS SALMOS
O Saltério está dividido em cinco livros, sendo que cada um termina com uma doxologia. Apesar de, hoje, essas doxologias serem numeradas como vs. de um salmo, na realidade, são elementos independentes que encerram cada um dos livros, com exceção do Livro V, no qual o último salmo é a doxologia, que, por sua vez, encerra toda a coleção. A organização dos livros e das doxologias é como segue:

Livro I
Salmo 1.1—41.12
Doxologia 41.13
Livro II
Salmo 42.1—72.17
Doxologia 72.18-19
Colofão 72.20
Livro III
Salmo 73.1—89.51
Doxologia 89.52
Livro IV
Salmo 90.1—106.47
Doxologia 106.48
Livro V
Salmo 107.1—149.9
Doxologia 150.1-6

Esse arranjo talvez queira imitar o Pentateuco: os cinco Livros corresponderiam aos cinco rolos da Lei. É evidente que a compilação dos salmos nessas cinco grandes divisões é o resultado de um complexo processo de composição, o que explica a representação de alguns deles (cf. 14 e 53; 40.13-17 e 70; 57.7-11 e 108.1-5; 60.6-12 e 108.7-13).
A numeração dos salmos no texto hebraico difere da utilizada nas versões grega (LXX) e latina (Vulgata). Essa diferença se deve ao fato de que alguns salmos foram divididos, e outros foram unidos. Assim, p. ex., os Salmos 9 e 10 do hebraico correspondem ao Salmo 9 das versões grega e latina, enquanto que os Salmos 114 e 115 da LXX correspondem ao 116 do texto hebraico. Nesta edição, os salmos são citados de acordo com a numeração hebraica. O quadro seguinte apresenta, em forma comparada, ambas as numerações:


Texto hebraico .....Versão grega (LXX ou Septuaginta)
1 a 8 .....................1 a 8
9............................9.1-21
10..........................9.22-39
11 a 113.................10 a 112
114.........................113.1-8
115.........................113.9-26
116.1-9...................114
116.10-19...............115
117 a 146................116 a 145
147.1-11..................146
147.12-20................147
148 a 150.................148 a 150

TÍTULOS HEBRAICOS DOS SALMOS
Os títulos hebraicos dos salmos contêm diversas informações. Algumas vezes, fazem referência à pessoa a quem se atribui a composição do poema, pessoa que, em quase a metade dos casos, é identificada com o rei Davi (3—9; 11—32; 34—41; 51—65; 68—70; 86; 103; 108—110; 124; 131; 133; 138—145). Outros salmos são atribuídos a Salomão (72; 127), a Asafe (50; 73—83), aos filhos de Corá (42; 44—49; 84—85; 87—88), a Etã (89) e a Moisés (90). Há 49 salmos que são anônimos.
    Alguns títulos oferecem informação sobre a música (p. ex., “ao mestre de canto, com instrumentos de cordas”, 4; 6; etc.). Infelizmente, o significado de numerosos termos técnicos se perdeu, e não temos como traduzi-los de maneira precisa: termos como Masquil (42; 44; 52—55, etc.), Mictam (16; 56—60) e Shigaion (7) parecem referir-se a determinados tipos de salmos. Outros parecem referir-se a algum instrumento musical, como no caso de Neginot (instrumentos de cordas?, 4; 6) e Nehilot (flautas?, 5). Outros, por fim, aparecem precedidos da preposição “sobre” (hebr. al) e parecem ser os nomes da melodia que se usava com determinado salmo, como, p. ex., Aielet-Hashahar (22), Alamot (46), Gitit (8; 81; 84), Mahalat (53; 88), Mut-Labén (9), Seminit (6; 12). Nesta versão, os nomes das melodias foram traduzidos, como, p. ex., “Corça da manhã” (22), “A pomba nos terebintos distantes” (56), “Os lírios” (45; 69), “Não destruas” (57—59; 75). A palavra selah, que aparece 71 vezes no texto hebraico dos Salmos, significa, possivelmente, “levantar” e parece indicar um interlúdio musical.

SALMOS IMPRECATÓRIOS
Finalmente, não se pode deixar de lado o fato de alguns salmos serem particularmente desagradáveis aos ouvidos cristãos. Às vezes, os salmistas se encontram totalmente indefesos diante da maldade, da opressão e da violência e, por isso, não só clamam ao Senhor, que é o único que pode salvá-los, mas também pedem a Deus que faça cair sobre os seus inimigos os piores males. Assim, se unem num mesmo salmo as súplicas mais ardentes e as mais violentas imprecações (cf. Sl 58.6-11; 83.9-18; 109.6-19; 137.7-9).
As dificuldades que essas passagens expõem são evidentes, e, por isso, é necessário compreendê-las situando-as no seu verdadeiro contexto. Para isso, é preciso recordar, em primeiro lugar, que os salmos foram formados sob o regime da antiga lei, quando Jesus ainda não havia revelado que o mandamento do amor ao próximo inclui também o amor ao inimigo (Mt 5.43-48; cf. Rm 12.17-21). Além disso, os salmos provêm de uma época na qual ainda eram insuficientes e rudimentares as idéias sobre a vida além da morte e sobre a recompensa reservada aos justos na vida eterna (ver Sl 6.5, n.). De fato, segundo as idéias correntes entre os antigos israelitas, as boas e más ações eram recompensadas na vida presente, e o malvado devia receber o seu castigo o quanto antes, a fim de que se tornasse manifesto que há um Deus que julga na terra (Sl 58.11).
Finalmente, o cristão não pode deixar de reconhecer a fome e sede de justiça que se expressam nessas súplicas ao Senhor, para que se manifeste como Juiz justo (cf. Jr 15.15). O amor aos inimigos não significa indiferença frente ao mal, e, quando triunfam a injustiça, a violência, a opressão aos mais fracos e o desprezo a Deus, o cristão pode dizer ao Senhor:
“Exalta-te, ó juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando, Senhor, os perversos, até quando exultarão os perversos?” (94.2-3).
Fonte:
iLúmina - A Bíblia do século XXI

PROVÉRBIOS


O LIVRO
O livro de Provérbios (Pv) pertence ao grupo dos que são denominados genericamente “poéticos e sapienciais”. (Ver a Introdução aos Livros Poéticos e Sapienciais.) Ele é composto por uma série de coleções que, em forma de máximas, refrães, ditos e poemas, transmitem a antiga herança de sabedoria de Israel. O conteúdo, no seu conjunto, é encabeçado pelo título “Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel” (1.1), razão pela qual a obra completa foi atribuída freqüentemente àquele monarca, célebre pela sua sabedoria e autor de três mil provérbios e mil e cinco cânticos (1Rs 4.29-34).
De fato, uma leitura atenta do livro realça rapidamente a complexidade da sua composição, que é maior do que se possa supor à primeira vista. Além de Salomão, são citados como autores ou compiladores de sentenças e ditos: Agur, filho de Jaque (30.1), e o rei Lemuel (31.1), ambos, segundo se crê, oriundos da tribo de Massá, descendentes de Ismael (Gn 25.14). Em três ocasiões, se especifica que Salomão é autor dos provérbios que seguem (1.1; 10.1; 25.1); em outras duas, se atribuem aos “sábios” (22.17; 24.23), e em uma é mencionada a colaboração dos copistas a serviço de Ezequias, rei de Judá (25.1).

OS PROVÉRBIOS E A SABEDORIA POPULAR
A história de todos os povos está cheia de fatos e acontecimentos nos quais o ser humano sempre tratou de compreender as chaves da sua própria realidade e a sua relação com o mundo que o rodeia e de adotar os comportamentos idôneos para todo momento e circunstância da sua existência. A infinita variedade de fenômenos conhecidos e a observação de muitos deles, repetidos de maneira regular e cíclica, permitiu enriquecer a experiência de cada geração e deduzir as atitudes que melhor convêm para o desenvolvimento da vida e da cultura da humanidade.
A mais genuína sabedoria popular se baseia nessa experiência, acumulada e transmitida de pais a filhos, freqüentemente em forma de máximas simples que, em geral, são como lições de moral brevíssimas e fáceis de se reter na memória. A validez de algumas delas, às vezes, fica limitada a um grupo humano de determinadas características de raça, nação, religião, idioma ou costumes. Mas também há aquelas que passam de um povo a outro e de uma a outra época. Trata-se, neste segundo caso, de pensamentos de valor universal que podem se integrar de imediato em culturas alheias à de origem. Assim ocorre em boa medida com Provérbios, onde, por outro lado, também se avaliam reflexos de sabedoria popular não-israelita: mesopotâmica, egípcia e de outros povos do Antigo Oriente Médio; p. ex., as duas coleções de refrães atribuídas respectivamente a Agur e Lemuel (30.1-33 e 31.1-9) ou o paralelismo existente entre Pv 22.17—23.12 e um famoso texto do escriba egípcio Amenemope, por volta do ano 1000 a.C.
Um provérbio de conteúdo sapiencial é denominado de mashal em hebraico, palavra aparentada com uma raiz que, além de outros significados, inclui o de “dominar” ou “reger”. Essa idéia tipifica um autêntico mashal como uma expressão persuasiva e estimulante, seja qual for a forma em que se apresente: como provérbio ou refrão propriamente dito, como máxima moral ou sentença que avalia e compara diversas condutas e atitudes adotadas frente à vida. Em algumas ocasiões mashal significa também parábola, alegoria, fábula e inclusive adivinhação.


A SABEDORIA NO LIVRO DE PROVÉRBIOS
A sabedoria de Provérbios se centra acima de tudo nos âmbitos da vida que não são regulados por ordenanças cúlticas ou mandamentos expressos pelo Senhor. Por essa razão, a maior parte do livro não se refere a temas propriamente religiosos. Refere-se, muito mais, aos temas que são específicos da existência humana, seja na sua dimensão pessoal (o indivíduo) ou coletiva (a família e a sociedade em geral): a educação (13.24), a família (12.4; 19.14; 21.9; 31.10-31), o adultério (6.24; 23.27), o relacionamento entre pais e filhos (10.1; 28.24; 30.17), o relacionamento entre o rei e os seus súditos (14.35; 22.29; 25.6; cf. 16.12) e a honradez nos negócios (11.1; 20.10,23). Em alguns textos, se colocam questões gerais de moral (cf. 12.17; 15.21), e em outros são propostas regras de urbanidade e conduta social (23.1-3; 25.17; 27.1). Em todos esses casos, o evidente é que Provérbios considera a sabedoria como um princípio essencialmente prático, fundamentado na observação, na experiência e no sentido comum e orientado para os múltiplos aspectos da atividade humana.
Contudo, não seria correto esquecer que a religião de Israel também marcou com o seu próprio selo essa sabedoria, que se adquire por meio da experiência. Prova disso é a afirmação que abre a primeira das coleções de provérbios: “O temor do Senhor é o princípio do saber” (1.7; 9.10; cf. Jó 28.28; Sl 111.10). Isso significa que a única sabedoria verdadeira é a que implica uma forma de vida baseada na obediência a Deus e se manifesta no amor à bondade e à justiça (9.10; 31.8-9; cf. 17.15,23; 18.5). E no poema em que é elogiada a mulher virtuosa, com o que também se encerra o livro (31.10-31), se volta a fazer menção do temor do Senhor (v. 30).
Em Provérbios, a mente dos sábios de Israel aparece como subjugada pela doutrina da retribuição, isto é, do prêmio ou do castigo que merece a ação humana, seja ela boa ou má. Essa idéia, que se apresenta freqüentemente, é enunciada de modo terminante em 11.31: “Se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e o pecador!” (cf. 3.31-35; 12.7,14; 17.5; 24.12; 28.20). Mas, como a experiência demonstra que nem sempre a felicidade é nesta vida coroa da virtude, também a desgraça não é coroa da maldade (cf. Sl 73.1-12; Jr 12.1-2), chegou um momento, no qual o pensamento da retribuição, havendo entrado em crise, deu lugar ao gratificante ensino do amor e perdão de Deus, já acolhido em livros como Jó e Eclesiastes.

ESBOÇO:
1. Introdução (1.1-7).
2. Primeira coleção: Poemas (1.8—9.18).
3. Segunda coleção: “Provérbios de Salomão” (10.1—22.16).
4. Terceira coleção: “Palavras dos sábios” (22.17—24.22).
5. Quarta coleção: “Provérbios dos sábios” (24.23-34).
6. Quinta coleção: “Provérbios de Salomão” (25.1—29.27).
7. Sexta coleção: “Palavras de Agur” (30.1-33).
8. Sétima coleção: “Palavras do rei Lemuel” (31.1-9).
9. Apêndice: “O louvor da mulher virtuosa” (31.10-31).

Fonte: iLúmina - A Bíblia do século XXI


ECLESIASTES

O TÍTULO DO LIVRO
Eclesiastes é o título que, na Septuaginta (LXX), recebe o livro chamado de Qohelet no texto hebraico da Bíblia. Ambos os vocábulos, o grego e o hebraico, significam praticamente o mesmo: “pregador”, “orador”, “pessoa encarregada de convocar um auditório e dirigir-lhe a palavra”. E, em ambos os casos, trata-se de termos derivados: Qohelet deriva de qahal, raiz hebraica que, com a idéia de “reunião” ou “assembléia”, ficou representada em grego pelo substantivo ekklesía, do qual, por sua vez, Eclesiastes (Ec) é derivado. Uma peculiaridade que convém registrar é que, na Bíblia Hebraica, o termo qohelet aparece algumas vezes sem artigo e outras com ele, o que, no primeiro caso, dá o sentido de um nome próprio (1.12; 7.27; 12.9) e, no segundo, de “funcionário”, de um título profissional (12.8). Tal distinção não é feita na presente tradução.

O AUTOR
Eclesiastes é o mais breve dos escritos sapienciais. O seu autor foi, provavelmente, um sábio judeu da Palestina do período em que a cultura helenística encontrava-se em pleno processo de expansão por todo o Oriente Próximo. Os seus esforços eram presididos pelo seu amor à verdade e por comunicá-la de forma idônea, com as palavras mais adequadas (12.9-10). Foi um pensador original e crítico, que não se conformava em repetir idéias alheias ou aceitar sem exame os postulados que a tradição dava por irrefutáveis.
Sem mencionar expressamente a Salomão, o autor refere-se a ele quando cita o “filho de Davi, rei de Jerusalém” (1.1,12) e quando enumera (na primeira pessoa) as suas obras e riquezas (2.4-9). Tais alusões contribuíram, sem dúvida, para dar crédito a Eclesiastes e a que fosse atribuído a Salomão, o rei sábio por excelência. Contudo, o hebraico característico da sua redação e as idéias nele expostas correspondem a uma época posterior.

O CONTEÚDO DE ECLESIASTES
Mais que um discurso pronunciado perante uma assembléia, este livro parece um solilóquio. É uma espécie de discussão do autor consigo mesmo, interna, da qual freqüentemente considera realidades opostas entre si: a vida e a morte, a sabedoria e a estultícia, a riqueza e a pobreza. Nessa contraposição de conceitos, os aspectos negativos da realidade aparecem realçados e expostos num tom de profundo pessimismo. Contudo, em nenhum momento Eclesiastes chega ao extremo de menosprezar ou negar quanto de valoroso tem a vida; nunca deixa de reconhecer os aspectos positivos que fazem parte da existência e da experiência do ser humano; trabalho, prazer, família, bens ou sabedoria (2.11,13). Porém têm um valor relativo, de modo que nenhum deles (nem cada um particularmente, nem todos juntos) chega a satisfazer os anseios mais profundos do coração.
O Pregador se interroga pelo sentido da vida. Com absoluta sinceridade coloca a questão que mais o preocupa e que ele reduz a termos concretos perguntando-se: “Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (1.3), o que equivale a: Que deve conhecer, saber e fazer o ser humano para viver de maneira plenamente satisfatória?
Na busca da resposta que melhor convém a essa pergunta fundamental, o escritor analisa e critica com sistemática atenção os diversos caminhos que poderiam conduzi-lo ao seu objetivo: o prazer (2.1), a sabedoria (1.13) ou a realização de grandes obras (2.4). Mas descobre que ao término de todos os seus esforços o espera idêntica decepção, o que ele resume nas poucas palavras do seu célebre aforismo: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (1.2; 12.8). Porque, no fim das contas, a atividade de Deus no mundo é um mistério impenetrável para a sabedoria humana, incapaz ela mesma de descortinar o véu que o envolve. Eclesiastes trata de decifrar o enigma da existência e de penetrar no sentido das coisas apoiando-se tão-somente na sua experiência pessoal e nos seus próprios raciocínios. Essa atitude crítica o distanciou do sereno otimismo que revela o livro de Provérbios e o impediu de compartilhar da grande esperança dos profetas do povo de Israel; contudo, conclui com a afirmação de que “o dever de todo homem” (12.13) encontra-se no relacionamento deste com Deus.

ESBOÇO:
1.      A experiência do Pregador (1.1—2.26)
2.      Juízos do Pregador em torno da existência humana (3.1—12.8)
3.       Conclusão (12.9-14)


Fonte: iLúmina - A Bíblia do século XXI


Eclesiastes (Ec)
Autor: Salomão
Data: Cerca de 931 aC
Autor e Data: O nome Eclesiastes deriva do termo grego ekklesia (“assembleia”) e significa “aqueles que fala a uma assem- bleia”. O termo hebraico correspondente é qohelet, que significa “aquele que convoca uma assembléia” recebendo muitas vezes a tradução de “Professor” ou “Pregador” em outras versões da Bíblia.
Eclesiastes e, geralmente creditado a Salomão (cerca de 971 a 931 aC), escrito em sua velhice. O tom pessimista que impregna o livro talvez seja um efeito do estado espiritual de Salomão na época (ver 1Rs 11). Embora não mencionado em 1Rs, Salomão provavelmente recobrou a consciência antes de morrer, arrependeu-se e voltou-se para Deus. Ec 1.1 parece ser uma referência a Salomão: “Palavra do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”. Alusões à sabedoria de Salomão (1.16), à riqueza (2.8), aos servos (2.8), aos prazeres (2.3)e a atividade de edificação estão espalhadas por todo o livro.

Contexto: O livro evidencia um período em que, para o autor, as soluções tradicionais pras as grandes questões da vida, particularmente para o sentido da vida, perderam a sua relevância. Ao invés de responder estas questões com citações da Escritura, o Pregador introduz uma metodologia baseada na observação e na indução. A sabedoria, quando encontrada em outra literatura sapiencial da Bíblia (Jó, Pv e certos Sl), é sinônimo de virtude e piedade; e sua antítese, a loucura, representa a maldade. No livro de Ec, a palavra “sabedoria”, às vezes, é usada nesse sentido quando se trata da interpretação israelita tradicional sobre a sabedoria (como em 7.1-8.9; 10.1-11.16). Mas no capítulo de abertura (1.12-18), o autor lida com a sabedoria enquanto o processo de puro pensamento, semelhante à filosofia grega, com questionamento dos valores absolutos. Mesmo sem contestar a existência de Deus, a qual confere sentido à criação, o Pregador está determinado a procurar esse sentido através da sua própria experiência e observação, a fim de poder verificar esse sentido pessoalmente e transmiti-lo aos seus discípulos.

Conteúdo: O livro de Ec apresenta todos os indícios de ser um ensaio literário cuidadosamente composto que precisa ser compreendido em sua totalidade antes de poder ser entendido em parte. O Conteúdo do livro é definido por versos quase idênticos (1.2; 12.8), que circunscrevem o livro ao antecipar e resumir as conclusões do autor. O tema é definido em 1.3: “Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?” Ou, pode a verdadeira sabedoria ser encontrada por um ser humano à parte da revelação de Deus?
A busca do Pregador é por algum tipo de valor (“vantagem) fixo, imutável, que possa ser achado nesta vida (“debaixo do sol”), que possa servir como base de uma vida adequada. O termo hebraico traduzido pro “vantagem” é yitron (1.3) e também pode ser traduzido por “ganho”, “valor”. “Vaidade” é uma palavra –chave no livro, traduzida do termo hebraico hebel (lit. “fôlego”), indicando assim aquilo que é mortal, transitório e efêmero. Tentando cada um dos caminhos propostos pela humanidade para alcançar o valor procurado, ele os acha evasivos (“aflição de espírito”), fugazes e transitórios (“vaidade”).
A “sabedoria” de 1.12-18 está desprovida de valor verdadeiro. E a resposta também não é encontrada no prazer, na riqueza, em grandes realizações (2.1-11), em uma doutrina de compensação (2.12-17) ou no materialismo (2.18-26).
Qual deve ser nossa atitude diante do fato de que nem as realizações nem as coisas materiais são yitron, ou seja, não têm valor permanente? A resposta introduz o tema secundário do livro: devemos desfrutar tanto a vida como também as coisas que Deus nos tem concedido (3.11-12; 5.18-20; 9.7-10), lembrando que, no final, Deus nos julgará pelo modo como fizemos isso (11.7-10)
Mesmo a própria vida humana, em qualquer sentido humanista, secular, não pode ser considerada como o yitron que o Pregador procura. Mesmo a relação de vida e morte é um tema subordinado no livro.
Mas retomando à busca principal do Pregador: será que essa busca está destinada a terminar (12.8) como começou (1.2), numa nota de desespero? A constante investigação do Pregador por um sentido para toda a existência demonstra que ele é um otimista, não um pessimista, e o seu fracasso em descobrir algum valor absoluto, permanente, nesta vida (“debaixo do sol”), não significa que a sua busca seja um fracasso. Ao contrário, ele se acha forçado (pela observação de Deus pôs ordem no universo quando este foi criado, 3.1-14) a buscar o valor que tanto procura no mundo do porvir (não “debaixo do sol”, mas “acima do sol”, por assim dizer). Embora não afirme isso especificamente, a lógica que envolve toda a sua busca compele a encontrar o único verdadeiro yitron no temor (reverência) e na obediência a Deus (11.7-12.7). Isso é afirmado no epílogo: o dever de toda a humanidade é a reverência a Deus e o cumprimento dos seus mandamentos (12.13). Isso precisa acontecer, mesmo que durante esta vida não haja justiça verdadeira , pois Deus, no fim, trará a juízo tudo o que existe (11.9; 12.14). Com esta observação profunda o livro termina.

O Espírito Santo em Ação: Toda as referencias ao “espírito” em Ec são referentes à força vital que anima o ser humano ou o animal (ver 3.18-21). Apesar disso, o livro antecipa alguns dos problemas enfrentados pelo apóstolo Paulo na implementação de dons espirituais em 1Co 12-14. As pessoas que acreditam que Deus lhes fale através do ES em sonhos e visões (Jl 2.28-32; At 2.17-21) agiriam bem se prestassem atenção na sábia advertência do Pregador de que nem todo sonho é voz de Deus (5.3). Paulo aparenta ter isso em mente ao falar sobre os dons de línguas e profecias em 1Co 14.9, aconselhando uma manifestação ordenada, seguida de um julgamento da assembléia sobre a declaração. Da mesma forma, a ênfase do Pregador na reverência e na obediência a Deus é paralela à preocupação de Paulo com a edificação da igreja (1Co 14.5). Os verdadeiros dons espirituais— manifestações genuínas de ações ou expressões miraculosas– acontecem em espírito de reverência pra a glória de Deus através de Cristo e para a edificação dos crentes.

Esboço de Eclesiastes:
I- Prólogo 1.1-2
a) Identificação do Livro 1.1
b) Resumos das investigações do Pregador 1.2

II- Estabelecimento do Problema 1.3-11
a)                     Estabelecimento do problema: Pode-se encontrar algum valor verdadeiro nesta vida? 1.3
b)                    Exposição do problema: Uma refutação das soluções humanísticas 1.4-11


III- Tentativas de solução para o problema 1.12-2.26

a)      A refutação da razão pura: A sabedoria humana, sozinha, é inútil. 1.12-18
b)      O fracasso do hedonismo: O prazer não tem sentido em si mesmo. 2.1-11
c)      O fracasso da compensação: O sábio e o tolo encaram um fim comum 2.12-17
d)      O fracasso da materialismo. 2.18-26

IV- Desenvolvimento do tema 3.1 - 6.12
a) Inutilidade dos esforços humanos em mudar a ordem criada. 3.1-15
b) Inutilidade de um fim igual a criaturas desiguais. 3.16-22
c) Inutilidade de um vida oprimida 4.1-3
d) Inutilidade da inveja. 4.4-6
e) Inutilidade de ser sozinho. 4.7-12
f) Inutilidade de uma monarquia hereditária. 4.13-16
g) Inutilidade do fingimento numa religião formal. 5.1-7
h) Inutilidade de sistemas de valores materialistas. 5.8-14
i) Inutilidade de deixar para trás, na morte, os produtos do trabalho 5.15-20
j) Inutilidade da futilidade de uma vida despojada. 6.1-9
l) Inutilidade do determinismo da natureza.  6.10-12

V- A sabedoria prática e os seus usos. 7.1 - 8.9
a) Provérbios moralizantes sobre vida e morte, bem e mal. 7.1-10
b) A sabedoria e as suas aplicações. 7.11-22
c) Observações sábias variadas. 7-23 - 8.1
d) A sabedoria na corte do rei. 8.2-9

VI- Um retorno ao tema. 8.10 - 9.18
a)      Inutilidade da compensação (novamente) 8.10 - 9.12
b)      Inutilidade da natureza instável do homem (novamente) 9.13-18

VII- Mais sobre a sabedoria e seus usos 10.1 - 11.6
VIII- O único valor é temer a Deus e obedecê-Lo. 11.7 - 12.7
a)      O primeiro resumo das conclusões 11.7-10
b)      O segundo resumo: alegoria da velhice e morte 12.1-7

IX- Epílogo: Confirmação da conclusão 12.8-14
a)      Resumo das conclusões do Pregador 12.8
b)      Resumo das conclusões do pregador através de um discípulo. 12.9-14

Fonte: Bíblia Plenitude


Cantares (Ct)
Autor: Salomão
Data: Entre 970 a 930 aC

Autor e Data
A autoria de Salomão é contestada, mas a glória do simbolismo salomônico é essencial em Cantares. Jesus referiu-se duas vezes à glória e sabedoria de Salomão (Mt 6.29; 12.42). Como filho real de Davi, Salomão tece um lugar singular na história da aliança (2Sm 7.12,13). Seus dois nomes de nascimento, que simbolizam paz (Salomão) e amor (Jedidias), aplicam-se diretamente a Ct (2Sm 12.24-25); 1Cr 22.9). O glorioso reino de Salomão foi como uma restauração do jardim do Éden (1Rs 4.20-34), e o templo e o palácio que construiu personificam as verdades do tabernáculo e a conquista da Terra Prometida (1Rs 6.7). Salomão encaixa-se perfeitamente como a benção personificada do amor da aliança, visto que ele aparece em Ct com toda a sua perfeição real (1.2-4; 5.10-16).
Embora Ct não forneça informações precisas sobre o contexto, Salomão reinou em Israel de 970 a930 aC. Linguagem e ideais similares também são encontrados na oração que Davi fez no templo por Salomão e pelo povo durante a entronização de Salomão (1Cr 29)

Características e Conteúdo
O livro de Ct é a melhor de todas as canções, um trabalho literário de arte e uma obra– prima teológica. No séc. II, um dos maiores rabinos, Akida bem Joseph, disse: “No mundo inteiro, não há nada que se iguale ao dia em que o Cântico dos Cânticos foi entregue a Israel.” O livro de Ct, em si, é como a sua fruta favorita, a romã, em cores vivas e repleto de sementes. Bastante diferente de qualquer outro livro bíblico. Ele merece consideração especial como arquétipo bíblico que apresenta, de um modo novo, as realidades básicas das relações humanas. Ct emprega linguagem simbólica pra expressar verdades eternas, em semelhança ao Livro de Apocalipses.
Ct contém descrições da mulher sulamita juntamente com uma exibição completa dos produtos de seu jardim. Isso deve ser entendido como um paralelo poético do amor conjugal e como bênçãos ao povo da aliança, em sua terra.
Claras indicações são dadas na descoberta das bênçãos da aliança: “sai-te pelas pisadas das ovelhas” (1.8). Aqui, o termo “pisadas” é, literalmente, “marcas de calcanhar”, e pode ser uma alusão a Jacó, o patriarca cujo nome conota “um calcanhar”. A função pastoril de Jacó e a sua constante luta pela bênção de Deus e do homem são citadas como a norma bíblica para o povo de Deus (Os 12.3-4,12,14). Ele nasceu segurando o calcanhar do seu irmão, um manipulador congênito. Foi “desconjuntado” com ardil no âmago de seu ser, como ilustrado por seu mancar em Maanaim (Gn 32). Foi forçado a viver fora de sua terra sob a ameaça de uma irmão irado. Retornou pra sua terra depois de 20 anos com uma instituição familiar defeituosa. Ardil, falta de amor, ciúme, raiva e amor de aluguel (de mandrágora, um suposto afrodisíaco) entraram nessa fraca estrutura. Os próprios nomes das Doze Tribos mostram a necessidade de uma nova história familiar.
A sulamita ajuda e reescreve essa história. Ela executa a dança memorial de Maanaim (6.13); ver Gn 32.2). Quando encontra a quem ama, ela o detém e não o deixa partir (3.4; ver Gn 32.26). Mandrágoras perfumadas crescem nos campos dela (7.11-13; ver Gn 30.14). Quando as filhas vêem, chama-na bem– aventurada ou feliz (6.9; ver Gn 30.13). Na sulamita, a corrompida árvore familiar produz “frutos excelentes”, os melhores (7.13; ver Dt 33.13-17). As bênçãos da aliança que havia sido distorcidas são redimidas.
Os mesmos acontecimentos também podem ser visto como retratos do amor conjugal. Dessa maneira, ela detém o seu marido e não o deixa partir (3.4). É o seu marido que elogia sua beleza (6.4-10). E a procissão de um casamento real e a alegria recíproca do noivo e da noiva aparecem retratadas em 3.6-5.1.

O Espírito Santo em Ação
De acordo com Rm 5.5, “o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo ES”. Baseado em Jesus Cristo, o ES é o poder de ligação e união do amor. A feliz unidade revelada em Ct é inconcebível à parte do ES. A própria forma do livro como cântico e símbolo é adaptada especialmente ao Espírito, pois ele mesmo faz uso de sonhos, linguagem figurada e o canto (At 2.17; Ef 5.18,19). Um jogo de palavras sutil, baseado no “sopro” divino do fôlego da vida (o ES, Sl 104.29,30) de Gn 2.7 parece vir à tona em Ct. Isso acontece em “antes que refresque o dia” (2.17; 4.6), no “soprar” do vento no jardim da sulamita (4.16) e, surpreendentemente, na fragrância da respiração e do fruto da macieira (7.8).

Esboço de Cantares
I. Cenas de abertura 1.1-2.7
Lembrando o amor do rei de bom nome 1.1-4
A morena e agradável guarda de vinhas 1.5,6
Procurando amor nas pisadas do rebanho 1.7,8
Removendo as marcas da escravidão 1.9-11
A linguagem do amor 1.12-17
O espírito e a árvore 2.1-6
A primeira súplica 2.7

II. A busca por abertura 2.8-3.5
Começando a busca 2.8-15
A alegria do amor no frescor do dia 2.16,17
A procura determinada pelo objetivo principal 3.1-4
A segunda súplica 3.5

III. A busca por mutualidade 3.6-5.8
A carruagem matrimonial real do amor da aliança 3.6-11
Conhecendo sulamita 4.1-7
Uma visão sobre a terra de cima do monte Hermom 4.8
Uma vida de união íntima num banquete no jardim 4.9-5.1
A queda da sulamita 5.2-7
A terceira súplica 5.8

IV. A busca por unidade 5.9 –8.4
Conhecendo Salomão 5.9-6.3
A glória triunfante da sulamita 6.4-10
O nobre povo da sulamita 6.11-12
A dança memorial de Maanaim 6.13-7.9
O início do novo amor de iguais 7.9 –8.3
A quarta súplica 8.4

V. Últimas cenas com resumo de realizações 8.5-14
Alcançando o objetivo principal 8.5
Alcançando o amor autêntico 8.6,7
Alcançando ao maternidade e a paz 8.8-10
Obtendo uma vinha igual a de Salomão 8.11-12
Obtendo a herança 8.13-14

Fonte: Bíblia Plenitude
http://www.vivos.com.br/99.htm

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