Jó 41
Nesta passagem, Deus descreve a imensa força do Leviatã para Jó, para mostrar a ele a sua própria insignificância diante da criação divina. O texto detalha o monstro de forma vívida, mencionando suas escamas indestrutíveis, sua boca que lança fogo e a fumaça que sai de suas narinas. O Leviatã é retratado como uma criatura que ninguém, nem mesmo o mais corajoso dos homens, ousaria enfrentar. A descrição serve para ilustrar a grandiosidade e o poder de Deus sobre todas as coisas, tanto as visíveis quanto as invisíveis, e para colocar a humildade de Jó em perspectiva.
Salmos 74:14
Neste salmo, o Leviatã é mencionado em um contexto de louvor a Deus por suas vitórias passadas. O salmista se refere a Deus "esmagando as cabeças do Leviatã" e o entregando como alimento para "o povo do deserto". A linguagem aqui é simbólica e poética, retratando o poder de Deus sobre o caos e as forças do mal. Muitos estudiosos veem esta passagem como uma alusão à vitória de Deus sobre as nações inimigas de Israel, ou sobre as forças da criação rebelde, reforçando a ideia de que Deus é o Senhor da história e do cosmos.
Salmos 104:26
Este salmo é um hino à criação de Deus. Ele celebra a beleza e a ordem do mundo natural, e menciona o Leviatã como uma criatura que brinca no vasto oceano, criado por Deus. Ao contrário das outras passagens, aqui o Leviatã não é retratado como uma força do mal a ser derrotada, mas como parte da criação de Deus. Ele é um lembrete do poder e da criatividade de Deus, que não apenas criou tudo o que é belo e harmonioso, mas também criaturas poderosas e misteriosas que habitam nos oceanos.
Isaías 27:1
No livro do profeta Isaías, o Leviatã é descrito como uma "serpente veloz e tortuosa". Esta passagem tem um tom de julgamento e esperança. Ela profetiza que, no "último dia", Deus irá punir e matar o monstro marinho. A referência ao Leviatã neste contexto é vista como um símbolo das forças do mal e da opressão que Deus finalmente irá subjugar. Assim como em Salmos 74:14, o Leviatã simboliza o caos e a rebelião, e sua destruição final é uma promessa da vitória definitiva de Deus sobre o mal.
Em suma, o Leviatã aparece nas escrituras como uma figura poderosa e multifacetada, representando tanto o caos e a oposição a Deus, quanto a grandiosidade da sua criação. Ele serve como um lembrete da soberania e do poder inigualável de Deus sobre todas as coisas.
Em sua obra "Leviatã", o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) se apropria do símbolo bíblico do Leviatã para fundamentar sua teoria política. Ele o utiliza para representar o Estado Soberano, uma entidade artificial criada pelos homens.
O Contrato Social e o Medo
Hobbes argumenta que, no estado de natureza, a vida humana seria uma "guerra de todos contra todos". Nesse cenário, não haveria leis, moral ou segurança, e cada indivíduo agiria unicamente em seu próprio interesse, levando a uma existência "solitária, pobre, desagradável, brutal e curta".
Para escapar dessa condição de anarquia e medo da morte violenta, os homens, guiados pela razão, decidem abrir mão de sua liberdade total e transferir seu poder a uma autoridade central. Esse é o contrato social.
O Leviatã como Estado
O Leviatã de Hobbes é a encarnação desse contrato. Ele é um monstro poderoso e onisciente, não no sentido religioso, mas como uma metáfora para o Estado. Esse Estado:
Detém o poder absoluto: O soberano (seja um monarca ou uma assembleia) tem autoridade incontestável para criar leis, impor a ordem e punir aqueles que as desobedecem. Esse poder é o que impede o retorno ao caos do estado de natureza.
É a fonte de toda a lei e moral: Fora do Leviatã, não há certo ou errado, justiça ou injustiça. A moralidade é definida pelas leis do Estado.
É mantido pelo medo: O poder coercitivo do Estado, com sua capacidade de punir, é o que garante a obediência dos súditos e a estabilidade da sociedade. A obediência não é baseada no amor ou na crença, mas no medo da sanção.
Em resumo, Hobbes usa o Leviatã para ilustrar a necessidade de um poder supremo e assustadoramente forte para controlar a natureza humana caótica e egoísta. Ele defende que a segurança e a paz só podem ser alcançadas através da submissão a um poder soberano incontestável, por mais opressor que ele possa parecer. O Leviatã é, portanto, a solução para o problema do medo e da desordem.





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